segunda-feira, 29 de setembro de 2008

[Der Sandmann]

Escrevo para não esquecer.

Não sonhava, mas também não estava desperto. Um estado de letargia paralisante entre dois Mundos distantes. Surge uma figura sentada sobre os calcanhares, em toda a sua dimensão o preto, todavia a cor não advém nem da roupa nem da pele... são as trevas que envolvem o vulto por inteiro. Distinguem-se um manto negro e longos cabelos escuros que se afastam da face à medida que o seu olhar desliza na minha direcção. Um rosto funesto, uma expressão nefasta, um olhar vazio, uma presença de cortar a respiração. Não existe temor nem receio, apenas ansiedade enquanto permaneço em plácida contemplação. Abro os olhos, a figura desaparece (ou foge) e a recordação esforça-se por iludir a memória que a muito custo a preserva. Adormeço para não mais o encontrar. O que observava eu, e porquê motivo me parecera tão fascinante e familiar...?

Ein Glass Wein und ein Lied

Nesta semana que passou voltei finalmente(!) a rever a Saalfeld e a Carol. Que saudades daquele sorriso capaz de animar um morto e daqueles olhos cor de puro mel...

P.S.-Escrito em atraso por motivo de deslocação ao norte...

St. Anger

Ich wollte ja nichts, als das zu leben versuchen, was von selber aus mir heraus wollte. Warum war das so sehr schwer? (H.H. in "Demian")

Este crepúsculo de vultos projectados na pedra rachada de um qualquer covil deixa-me por vezes de tal modo anestesiado, que nada mais me resta senão a minha raiva enquanto forma última de relembrar a minha condição humana. Não quero ser um autómato, mas por vezes sinto que estou a pedir demais...

domingo, 21 de setembro de 2008

This is the end...

É assim meus amigos, quando pensávamos já estar livres deles e poder dormir descansadamente, eis que eles surgem sem aviso nem anúncio:




Senhoras e Senhores, apresento-vos o Black Metal Japonês!


(agora sim, estamos bem fodidos...)

O Divino Marquês - Ó Puta!

A respeitável e honrada Sra. de Mistival era conhecida e reputada pela sua exemplar conduta tão consentânea com a sua condição de donzela da alta aristocracia francesa, conduta essa sempre substanciada pelos mais rígidos padrões da doutrina católica. Pois tal não foi sua surpresa quando descobriu que sua querida e casta filha havia caído nas mãos dos libertinos mais odiosos e imorais da sua casta. Em pranto e aflição a mui estimada senhora logo acorreu ao encontro de sua filha Eugénia, apenas para a encontrar entregue a práticas do mais execrável deboche. Eugénia, invadida por luxúria e outras coisas mais, incita o grupo de libertinos contra sua própria progenitora. Abusada e maltratada, a Sra. de Mistival permanece em convalescência até que Dolmancé, o líder dos libertinos, a ela se dirige:

"Está tudo dito. Ó puta, podes tornar-te a vestir e ir-te embora quando quiseres. Fica a saber que estávamos autorizados pelo teu próprio esposo a fazer tudo o que acabámos de fazer. (...) Que este exemplo sirva para te lembrar que a tua filha está em idade de fazer aquilo que quiser; que ela gosta de foder, que nasceu para foder e que, se não queres tu foder, o melhor que tens a fazer é dexá-la foder a ela. Sai; o cavaleiro vai levar-te. Saúda aqui a malta, sua puta! Põe-te de joelhos diante de tua filha e pede-lhe perdão pelo teu abominável comportamento para com ela... Vós, Eugénia, aplicai duas boas bofetadas à senhora vossa mãe e, logo que se encontre na soleira da porta, obrigai-a a ultrapassá-la com uns bons pontapés no cu. Adeus cavaleiro; não vás foder a senhora pelo caminho, lembra-te que está cosida e que tem sífilis. Quanto a nós, meus amigos, vamos para a mesa e, depois, todos quatro para a mesma cama! Que rico dia! Nunca como tão bem, nunca durmo tão sossegado como no dia em que me sujo o bastante naquilo que os parvos chamam crimes."

Donatien Alphonse S., in: La philosophie dans le boudoir, 1795

Could somebody please tell me what's the deal?!

Foi no inicio dos agitados anos 70 que o mestre Frank Zappa achou por bem fazer um filme. Como se isso não fosse mau o suficiente, verificou-se à partida que seria uma película com um valor de produção reduzido, pois como se poderá imaginar, o universo paralelo psicadélico de Zappa nunca foi capaz de gerar um estrondoso êxito de vendas (que surpresa, não é?). Assim sendo a rodagem do filme ficou a limitada a 7 dias de filmagens (um grande exagero não haja dúvidas), e para engrandecer ainda mais o suplício o director demitiu-se a meio das filmagens. O resultado final de tantas (ou tão poucas) peripécias foi o estranho e desarticulado "200 Motels".

Tenho as minhas sinceras dúvidas que tal obra alguma vez tenha tido uma distribuição decente, ou até mesmo alguma aceitação por parte do público, mas para meu gáudio a nossa Cinemateca de Lisboa achou por bem inclui-lo no cartaz do presente mês. Foi sem expectativas, e talvez um pouco receoso, que me sentei na humilde sala de cinema. E é exactamente aqui que se coloca a questão chave: "Então diz lá, minha grande besta, de que trata essa porcaria de filme?". Bom, trata de algo que não sei muito bem explicar, mas que me pareceu estar lá, se bem que não tenho a certeza, Digamos que, acontece algo ao longo do filme, umas vezes em tom de paródia, outras vezes em tom de sátira. No final tenho de admitir que sai da sala um pouco zonzo, ainda que satisfeito. Julgo que Zappa foi bem sucedido naquilo que queria criar. E o que era isso? Era Algo!

P.S.: Prometi a mim mesmo rever o filme sob o efeito de drogas...

Am I a Vacuum Cleaner?

"Who is this great burdensome slavering dog-thing that mediocres my every thought? I feel like a vacuum cleaner, a complete sucker, it's fucked up and he is a fucker. But what an enormous and encyclopaedic brain, I call upon the author to explain."

"Rosary clutched in his hand, he died with tubes up his nose and a cabal of angels with finger cymbals chanted his name in code. We shook our fists at the punishing rain and we call upon the author to explain."

- N. Cave & The Bad Seeds (2008)

P.S.: Meus amores, se ainda não ouviram o último álbum do Nick Cave, estão provavelmente a perder um dos melhores álbuns do ano...

Vorwärts Genosse, noch ein Bier!

Era uma noite de sexta-feira, o ambiente, assim como o público, estavam amenos. Em cima do palco Arraial tocava uma banda popular oriunda das terras de Beja. O maravilhoso sotaque era alentejano, tal como a inspiração que dava alma às musicas que se sucediam. Proveniente do cavaquinho, do acordeão e de outros instrumentos menos folclóricos brotava um som há já muito familiar, cortesia da banda "Trigo Limpo". A assistência permanecia contida mas alegre, tal como o amigo a meu lado. A certa altura a extrovertida vocalista anuncia a canção "Sou do Alentejo", dando azo a mais uma música muito pouco original, mas ainda assim divertida para a ocasião. O mencionado amigo deixa-se contagiar. Canta, dança e a certa altura, como que em ponto de ebulição, rodopia o casaco sobre a cabeça e grita em plenos pulmões: "ALENTEJO CARALHO!!!!"

Alguns diriam que era a cerveja, outros que era a alegria, porém eu digo: era o Avante!