segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

- Advertência -

O conjunto de publicações que se segue, consistindo em 6 partes e um epílogo, mais não é que um despretensioso esforço experimental de teor mais literário. Para o efeito, não serão desvendadas quaisquer fontes jornalísticas ou factos verídicos subjacentes à sua elaboração. Mais se declara que o autor não assumirá qualquer responsabilidade por eventuais ataques de pânico, surtos de insanidade ou tentativas de suicídio que possam advir da leitura do texto que se segue.

Cordialmente,
R.M.

No Limiar Oculto da Demência - Pt.1

Randolph Carter não se apresentava nem lúcido nem embriagado enquanto jazia imóvel sobre a cama rija e desconfortável de uma pensão paroquial. Ele próprio não era crente mas se mentisse de uma maneira minimamente decente ao velhote da entrada podia ter direito a um quarto imundo sem qualquer despesa. O quarto fedia com os odores de antigos hóspedes: toxicodependentes sem onde cair mortos, prostitutas em idade de reforma e bêbedos inveterados. O papel de parede com vinte anos descolava-se aos poucos das paredes, as inúmeras manchas na alcatifa traziam à tona memórias de decadência, o guarda-fato em ruínas e as queimaduras de beatas por todo o lado invocavam uma recordação agonizante. A lâmpada no tecto pendia pelo fio sem qualquer protecção e iluminava de forma intermitente, obrigando Carter a contemplar o seu quarto através de flashes inconstantes e acompanhados de zumbidos agudos e metálicos. Da fresta da sua janela recebia apenas um fraco clarão pálido de um candeeiro de rua há muito esquecido. Os únicos sons que recepcionava advinham de um alarme à distância e de um rolar cadente de garrafas de vidro. A televisão recusava-se a funcionar, respondendo às suas insistências com um mero ponto branco no centro do ecrã. Sendo este a única fonte de luz contínua presente entre as quatro paredes, Carter permanecia inerte sobre o colchão rasgado por baratas, junto a uma parede com um crucifixo maciço, enquanto observava fixamente o ponto de luz branca à sua frente. Por alguma razão, a intermitência amarela da luz acima parecia-lhe menos enlouquecedora do que a escuridão quase total.

No Limiar Oculto da Demência - Pt.2

Pensava sobre os seus últimos achados e sobre os rendimentos que estes poderiam trazer junto da loja local de penhores. Eram da sua preferência os artigos de ouro, os quais desenterrava de acordo com critérios bem definidos relativamente ao aspecto e envergadura da lápide. Há muito que ponderava uma mudança na sua ocupação laboral, mas as pessoas vivas eram demasiado complicadas, e desde sempre preferira negociar com os mortos como forma de obter os lucros que lhe iriam garantir a próxima garrafa de vinho. As suas equações foram de certa forma interrompidas por uma alteração no ponto brilhante e televisivo em sua frente, pois agora parecia pulsar com o ritmo de um coração alienígena. Não se inquietou, pensava de momento na povoação onde se encontrava, a qual havia sido generosa para com ele. Nessa localidade deparou-se a altas horas da noite com um cemitério de aparência aristocrata, com pormenores de grande beleza, uma vegetação rica e forte, e para seu gáudio, com sepulturas e sepulcros de grande antiguidade e ostentação. Essa noite fora altamente lucrativa. Os seus pensamentos foram novamente interrompidos pelos passos pesados do velho da recepção, o qual, muito provavelmente bem inebriado, se arrastava escada acima para o seu quarto no andar por cima do de Carter. O som grave dos passos é seguido do bater de uma porta, que Carter tenta forçosamente ignorar para voltar aos seus pensamentos. Os seus esforços são todavia em vão, quando do quarto de cima surgem gritos de raiva que adivinham violência. Sem esboçar qualquer reacção, Carter consegue distinguir uma voz feminina e idosa no intervalo dos berros, uma voz suplicante e sofrida que rapidamente é interrompida por sons secos muito semelhantes a pancadas fortes. Um velho insignificante, que após um dia inteiro a tolerar a escória da sociedade decide descarregar um mundo de frustração sobre uma pobre amostra de ser humano, não é nada que Carter nunca tenha visto ao longo da sua vida de eremita. Após alguns segundos o tumulto acalma-se e dá lugar a um balbuciar sofrido que Carter pode muito bem desprezar.

No Limiar Oculto da Demência - Pt.3

A atenção de Carter volta-se novamente para si mesmo. Fecha os olhos, respira fundo, pestaneja uma vez e começa a... - interrompe-se - ...abre outra vez os olhos e questiona-se como foi possível não ter reparado na negra e bem tecida teia de aranha no tecto, mesmo por cima de si (se é que tal forma possa ser considerada uma teia...). Não interessa, a sua mente retorna ao antiquíssimo cemitério que tanta felicidade e riqueza lhe trouxeram. Recorda uma a uma, as magníficas campas que prazenteiramente profanou, principalmente uma cuja lápide cheia de rachas não apresentava qualquer inscrição. Esta havia despertado nele um invulgar interesse pela sua singularidade, aparentava ser anterior a todas as outras sepulturas. O que nela observara fora de tal forma incredível, que questionava a sua veracidade. Os olhos de um homem embriagado não são de alguma forma fiáveis, mas que a imagem havia ficado gravada na sua memória, disso não havia dúvida. Desde os tempos de infância que ouvira histórias acerca do fenómeno da não decomposição de cadáveres, histórias de corpos imunes à putrefacção, dos quais nenhum verme ousava aproximar-se. Todavia, histórias não passam disso mesmo, ao passo que o cadáver pálido e de aspecto hermafrodita que então encontrara lhe parecera pura realidade. Não restava sobre ele qualquer réstia de indumentária, mas o sua aparência extraordinária, anormal e ao mesmo tempo perfeita, não indicava qualquer sexo. Mas o que causara o profundo horror no rosto de Carter foram os olhos esbugalhados que insistiam em observar o céu estrelado, olhos tão fixos que era quase possível crer que haviam sido eles a causa da inverosímil queimadura na tampa de caixão removida. Contudo, a realidade pode ser limitada pelo entendimento de cada um, e uma vez negada Carter encontrou as forças para remover a pulseira dourada do pulso daquele estranho ser. Esta encontrava-se ainda reluzente, contendo ornamentos totalmente únicos e uma série de símbolos que em nada se assemelhavam a algo escrito por uma mão humana. Pelo canto do olho, o ladrão de campas poderia jurar que o irreal cadáver olhava na sua direcção enquanto este procedia ao seu furto, mas achou por bem não o confirmar - para que piorar uma bebedeira já por si má.

No Limiar Oculto da Demência - Pt.4

Carter respirou fundo no desconforto do seu execrável quarto e procurou focar-se no esplêndido lucro que iria adquirir muito em breve. A lâmpada por cima de si fazia agora intervalos de escuridão demasiado prolongados. Num desses breves períodos de fatídica luminosidade pôde observar algo de feitio insectívoro, talvez aracnídeo, junto à construção que se assemelhava a uma teia cor de vulto. No andar de cima emergia novamente uma voz embutida de ódio e agressão. "A pobre velha está cheia de sorte se conseguir sobreviver mais uma noite" - pensava Carter para si mesmo.
"Acreditas em consciência Carter?"
"Se acreditasse não estava aqui agora" - respondeu ele ao ser aracnídeo.

No Limiar Oculto da Demência - Pt.5

"Não seria tudo mais fácil se simplificássemos?"
"É o que eu 'tou farto de dizer." - suspirou Carter.
"A quem?! Aos mortos?!" - O ser deslocou-se lentamente pela parede abaixo, fez um corte cirúrgico no ombro do homem e introduziu-se delicadamente sob a sua pele.
"Fazes comichão e fica sabendo que não vale a pena falar com os vivos, eles não escutam."
"Já alguma vez sequer tentaste?"
"Este é o sonho mais estranho que já tive.." - acrescentou Carter enquanto esboçava um sorriso.
"Nesse caso, porque não tentas pela primeira vez."
"Tudo bem, desde de que pares de me maçar."
O inerte homem moveu-se finalmente para retirar o crucifixo que pendia sobre si e deslocou-se em direcção ao corredor. Conseguia sentir o aracnídeo alienígena a subir pelo pescoço acima. Abriu a porta e começou a subir as escadas. O intruso parecia ter duplicado o seu tamanho, pois sentia as suas patas bicudas a raspar no interior do seu crânio. Estacou frente à porta do vizinho de cima:
"Vamos lá então simplificar".

No Limiar Oculto da Demência - Pt. 6

A porta abriu-se de rompante com um estrondo. Lá dentro uma idosa acocorava-se a um canto, demasiado ocupada a sangrar para se dar conta do que quer que fosse. Frente a ela um velho cambaleante e desorientado como um cão com raiva, interrompe a sua deambulação e vira-se incrédulo para a entrada do quarto. Impávido e sereno Carter atira o insignificante velho ao chão com um pontapé no peito. Com uma calma irreal, coloca os seus joelhos sobre os ombros do idoso, imobilizando-o. De seguida ergue o crucifixo com a figura de Nosso Senhor Jesus Cristo bem sobre a sua cabeça, apenas para o fazer descer repetidamente sobre a cabeça do ser ainda vivo que se encontra por debaixo de si. As primeiras pancadas mais não fazem que partir alguns ossos, à medida que estas continuam o crânio deforma-se a pouco e pouco, ouvindo-se o som de algo forte a rachar; os esforços prosseguem e já se avista massa cerebral a abandonar os ouvidos, cada pancada é acompanhada de um espasmo de sangue e fluído. A simplificação pára quando o crucifixo bate no soalho e a figura do Salvador saí disparada para meio da poça de sangue.
"Mais simples não há! Agora saí da minha cabeça de uma vez por todas!" - bradou Carter com toda força que lhe restava.
Logo de imediato o sangue desata a escorrer em catadupa por todos os orifícios da sua cara, ouve-se um estalo agudo e penetrante quando o crânio subitamente se divide ao meio. Seis garras, que mais parecem patas de um qualquer insecto horripilante, saem gradualmente do topo da cabeça de Carter, alargando a racha para dar lugar a um corpo insectívoro e viscoso. A criatura move-se agora de encontro à triste amostra de ser humano, ainda encolhido no canto do quarto e introduz-se violentamente nas entranhas da pobre idosa:
"A senhora acredita em consciência?"

No Limiar Oculto da Demência - Epílogo

Passaram-se semanas desde que o incidente com o ladrão de campas fez as manchetes por todo o país. A pensão está agora indefinidamente fechada e a população local ponderou seriamente demoli-la. As fitas policiais continuam a fechar o perímetro em seu redor, ao passo que as buscas por uma certa idosa desaparecida se revelam infrutíferas e são canceladas. Praticamente todos os bens roubados são restituídos aos seus legítimos donos, como forma infantil de restituir alguma santidade às suas sepulturas. Contudo, um determinado artigo permanece inatribuível, uma enigmática pulseira de ouro reluzente sem qualquer tipo de gravação ou inscrição.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Merry fucking Christmas!!

Pois é, pois é... a besta viscosa das profundezas regressou da sua dormência no fundo do fétido abismo para, como de costume, não dizer nada de jeito...

A vespéra natalícia já vai dando os últimos petardos e eu acho que ando com uma dor de cabeça por dormir demasiado (fodam-se! já chegam as noites em que não durmo nada de jeito!). Esta última semana foi praticamente toda dedicada à família, logo, não fiz nada de jeito... a não ser, creio eu, ter batido o meu recorde pessoal de permanência na mesa sem qualquer tipo de pausa (o que não é fácil... é preciso estômago..). No rescaldo o resultado até foi positivo, afinal o Natal sempre consegue ser qualquer coisinha para além do Cristo Rei da Samsung, da Árvore de Natal da Zon e do Marquês do Pombal da Tmn. E por falar nisso, espero sinceramente que para o ano já existam implantes cerebrais, pois assim sendo não hesitarei em pedir um anti-spam cerebral ao menino jesus no próximo Natal!
Quanto às tristes almas penadas que porventura tenham a infelicidade de ler este horroroso post, espero que tenham aproveitado o vosso Natal para não fazer nada de jeito, pois é sempre bom sinal quando tal acontece!

Cheers!!

Aparte: a árvore de natal em Almada pode não ser a maior da Europa, mas pelo menos não irrita com aquelas músicas infernais de Natal e, acima de tudo, é propriedade exclusiva da Câmara Municipal (vai buscar!!).

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A New Enemy

Musicalmente falando, fazia-me falta algo. Acumulava desilusões atrás de desilusões, nenhuma das minhas bandas de eleição conseguia ir ao encontro das minhas expectativas. Como poderia ser possível que o universo musical que dá pelo nome de Heavy Metal, e que no passado sempre me pareceu tão prolífero e criador, de repente dá por si estático. Salvo alguns casos pontuais, parecia-me que as grandes bandas se encontravam em luta com a sua própria criatividade. Começava a ficar preocupado, o mundo do Metal precisava de uma banda que fizesse estremecer de novo o chão, que trouxesse uma lufada de ar fresco e revigorante para o meio musical. Alguém que se estivesse marimbando para tudo e para todos, e ao mesmo tempo que fizesse toda a diferença. E eis que as minhas "preces" são atendidas:

Tendo em conta que Novembro já vai a meio, e considerando a fraquinha concorrência, apresento-vos aquele que é de longe o melhor álbum de verdadeiro Metal para ano de 2008:



Numa palavra: Essencial
(e para os mais corajosos: um link!)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

The day that never comes...

Neste fim-de-semana pude constar que os bons senhores do Fórum de Almada já acharam por bem pendurar todos aqueles esplendorosos penduricalhos de Natal, assim como espalhar por todo o lado aquelas lindas árvores que já saem da fábrica decoradas com bolinhas e tudo. E para tornar o espírito natalício ainda mais legítimo e autêntico, até contrataram um amoroso Pai Natal de carne e osso para sentar as criancinhas ao colo. É tudo tão maravilhoso e materialista e plástico. Dá-me vontade de correr nu com um lança-chamas em punho...

If you want blood...you got it!!

Epá, eu realmente não queria estar a ser chato (ou se calhar talvez não), mas não foi o menino Jesus que disse coisas maravilhosas, do estilo: se te baterem oferece a outra face, ama o teu semelhante, ama os teus inimigos, ou ainda, atire a primeira pedra que nunca pecou... Não sou lá grande religioso mas aprecio e admito o valor de tais dizeres. Aliás, se muitas das pessoas que se dizem cristãs realmente praticassem aquilo que pregam, viveríamos sem dúvida num Mundo muito melhor. Isto tudo apenas para vos certificar que tenho um grande apreço pela mensagem de paz transmitida na Bíblia. Suponho que talvez terá sido por causa do anterior que constatei com grande admiração a notícia que passava hoje nos ecrãs do metro:

"Batalha campal no Santo Sepulcro"

Ao ver sacerdotes com vestes religiosas a executar golpes marciais de perícia tal que deixariam o Songoku com inveja, não posso deixar de me questionar: "Mas será que estes gajos se dignam ao menos a ler o raio do livro?!"

Mais uma vez volto a dizer, eu não sou lá grande religioso (ou melhor, não sou nada mesmo), porém acho que há qualquer coisa de muito estranho em andar à porrada junto ao túmulo de Cristo... Mas prontos, isso sou eu que não percebo nada de religião...

P.S.: Estive quase para dizer que o pobre Jesus deve andar às voltas na campa, mas depois lembrei-me: o bacano ressuscitou...

domingo, 9 de novembro de 2008

Jesus e os Seus Amigos

Esta já tem direitos de autor, mas de qualquer das formas:

O ano era um daqueles em que Jesus ainda era vivo, o mês foi aquele em que Jesus andava em peregrinação por uma daquelas terras muito movimentadas e conhecidas na época (daquelas, 'tão a ver...?). Num dos acampamentos que Jesus e os seus fiéis montavam entre localidades (suponho que montassem algum tipo de acampamento, afinal de contas é um bocado chato andar constantemente a dormir ao relento), um coxinho aproxima-se de Jesus e diz:
-Ó Jesus, eu sou coxo!
Ao que o Rei da Judeia respondeu prontamente.
-Na boa! A gente cura essa merda!
Dito isto o apóstolo Judas chega de mansinho junto ao filho do Senhor e sussurra baixinho:
-Meu Senhor, tenha cautela que este parece ser genuinamente coxinho...
-Aí a porra! - interrompe Jesus - Eu disse: a gente cura essa merda! Qual foi a parte que não percebeste, hã?!
Jesus esfrega as mãos, Judas afasta-se humildemente e a multidão amontoa-se.
-Coxinho! - exclama o Nazareno.
-Sim meu Senhor.
-Vai para trás daquele rochedo que ali vês e faz exactamente como eu te mandar! Mas depressa que eu nam tenho o dia todo, 'tás a ouvir?!
E o coxinho lá coxeou tão depressa como pode para o ponto indicado.
-Ora bem, homem coxo, diz-nos lá: tens fé?!
-Tenho sim , meu Senhor! - ouve-se berrar por detrás da rocha.
-Acreditas na palavra do Senhor?!
-Acredito, Acredito!
-Então deita fora a muleta esquerda!
A multidão ficam estática quando vê uma muleta voar pelo lado esquerdo da rocha.
-Agora deita fora muleta direita!
Sai uma muleta em pleno voo pelo lado direito.
-E agora, anda! - grita Jesus ao mesmo tempo que a multidão entra em delírio levando os braços ao céu e proferindo palavras de fé.
Judas surge vá-se lá saber de onde, dá duas palmadinhas no ombro do Nazareno e segreda ao seu ouvido:
-Ó Jesus, não é por nada mas o coxinho caiu...

Arthur C. Clarke (1917-2008)

É verdade meus amigos, foi desta que finalmente terminei a leitura das famosas Odisseias da autoria do Sr. Arthur C. Clarke. Para quem não está familiarizado, trata-se do autor do famosíssimo "2001 Odisseia no Espaço", que inspirou um extraordinário filme realizado por Kubrick. Contudo, após este clássico da ficção científica, Clarke dignou-se a escrever mais três sequelas: "2010: Segunda Odisseia", "2061: Terceira Odisseia" e "3001: Odisseia Final". Infelizmente, com a morte do escritor ainda no presente ano e já com noventa anos, fomos privados daquela que seria outra extraordinária sequela, "3040: desta é que é!". A saga pode ter os seus altos e baixos, mas após algum tempo a leitura torna-se compulsiva, ao passo que as previsões que Clarke apresenta para um futuro próximo contêm mais fundamento do qualquer treta espiritual ou transcendental alguma vez terá. Por outro lado, e tendo em conta que os quatro livros foram publicados num espaço de cerca de quarenta anos, foi fenomenal testemunhar a evolução/maturação do estilo da escrita, sendo surpreendente a forma como perto dos oitenta anos de idade Clarke finalmente descobriu o seu sentido de humor, e para provar isso mesmo deixo-vos aqui um delicioso excerto de uma das anotações finais de 3001.

"The search for alien artifacts in the Solar System should be a perfectly legitimate branch of science ('exo-archaeology'?). Unfortunately, it has been largely discredited by claims that such evidence has already been found - and has been deliberately suppressed by NASA! It is incredible that anyone would believe such nonsense: far more likely that the space agency would deliberately fake ET artefacts - to solve its budget problems! (Over to you, NASA Administrators...)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Winds of Amnesia

Já lá vai um mês e não se avistam quaisquer notícias desta bestinha... Ficamos siderados, irresolutos e contemplativos perante tal marasmo, que indirectamente entorpece o espírito. Custará assim tanto largar umas breves palavras, por mais inconsequentes que sejam? Prefiguram-se manchas nalgum horizonte acabrunhado ou haverá algum impasse melancólico em propagação? Respostas, levou-as o vento nocturno, e com elas o "eu". Porém, sinto por vezes aquela vexada necessidade de voltar a mim e ver com olhos de ver, ainda que para tal tenha de fugir da tormenta que apelidamos de tempo e que tudo arrasta. Mas não será essa a questão fulcral, não seremos nós fugitivos de um tempo que tudo abarca, não serão os melhores momentos marcadas pela ausência desta variante omnipresente. Como são execráveis os medidores de tempo, recordam-nos constantemente da nossa condição de escravos. Todavia excedo-me, trata-se apenas de um mero assunto matemático, nada que umas contas bem feitas e uns cálculos devidamente realizados não resolvam. O tempo tem unidades de medida, as unidades de medida convertem-se em números, e os números são o fundamento, pena é que eu não seja uma máquina capaz de os processar da forma mais produtiva...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

[Der Sandmann]

Escrevo para não esquecer.

Não sonhava, mas também não estava desperto. Um estado de letargia paralisante entre dois Mundos distantes. Surge uma figura sentada sobre os calcanhares, em toda a sua dimensão o preto, todavia a cor não advém nem da roupa nem da pele... são as trevas que envolvem o vulto por inteiro. Distinguem-se um manto negro e longos cabelos escuros que se afastam da face à medida que o seu olhar desliza na minha direcção. Um rosto funesto, uma expressão nefasta, um olhar vazio, uma presença de cortar a respiração. Não existe temor nem receio, apenas ansiedade enquanto permaneço em plácida contemplação. Abro os olhos, a figura desaparece (ou foge) e a recordação esforça-se por iludir a memória que a muito custo a preserva. Adormeço para não mais o encontrar. O que observava eu, e porquê motivo me parecera tão fascinante e familiar...?

Ein Glass Wein und ein Lied

Nesta semana que passou voltei finalmente(!) a rever a Saalfeld e a Carol. Que saudades daquele sorriso capaz de animar um morto e daqueles olhos cor de puro mel...

P.S.-Escrito em atraso por motivo de deslocação ao norte...

St. Anger

Ich wollte ja nichts, als das zu leben versuchen, was von selber aus mir heraus wollte. Warum war das so sehr schwer? (H.H. in "Demian")

Este crepúsculo de vultos projectados na pedra rachada de um qualquer covil deixa-me por vezes de tal modo anestesiado, que nada mais me resta senão a minha raiva enquanto forma última de relembrar a minha condição humana. Não quero ser um autómato, mas por vezes sinto que estou a pedir demais...

domingo, 21 de setembro de 2008

This is the end...

É assim meus amigos, quando pensávamos já estar livres deles e poder dormir descansadamente, eis que eles surgem sem aviso nem anúncio:




Senhoras e Senhores, apresento-vos o Black Metal Japonês!


(agora sim, estamos bem fodidos...)

O Divino Marquês - Ó Puta!

A respeitável e honrada Sra. de Mistival era conhecida e reputada pela sua exemplar conduta tão consentânea com a sua condição de donzela da alta aristocracia francesa, conduta essa sempre substanciada pelos mais rígidos padrões da doutrina católica. Pois tal não foi sua surpresa quando descobriu que sua querida e casta filha havia caído nas mãos dos libertinos mais odiosos e imorais da sua casta. Em pranto e aflição a mui estimada senhora logo acorreu ao encontro de sua filha Eugénia, apenas para a encontrar entregue a práticas do mais execrável deboche. Eugénia, invadida por luxúria e outras coisas mais, incita o grupo de libertinos contra sua própria progenitora. Abusada e maltratada, a Sra. de Mistival permanece em convalescência até que Dolmancé, o líder dos libertinos, a ela se dirige:

"Está tudo dito. Ó puta, podes tornar-te a vestir e ir-te embora quando quiseres. Fica a saber que estávamos autorizados pelo teu próprio esposo a fazer tudo o que acabámos de fazer. (...) Que este exemplo sirva para te lembrar que a tua filha está em idade de fazer aquilo que quiser; que ela gosta de foder, que nasceu para foder e que, se não queres tu foder, o melhor que tens a fazer é dexá-la foder a ela. Sai; o cavaleiro vai levar-te. Saúda aqui a malta, sua puta! Põe-te de joelhos diante de tua filha e pede-lhe perdão pelo teu abominável comportamento para com ela... Vós, Eugénia, aplicai duas boas bofetadas à senhora vossa mãe e, logo que se encontre na soleira da porta, obrigai-a a ultrapassá-la com uns bons pontapés no cu. Adeus cavaleiro; não vás foder a senhora pelo caminho, lembra-te que está cosida e que tem sífilis. Quanto a nós, meus amigos, vamos para a mesa e, depois, todos quatro para a mesma cama! Que rico dia! Nunca como tão bem, nunca durmo tão sossegado como no dia em que me sujo o bastante naquilo que os parvos chamam crimes."

Donatien Alphonse S., in: La philosophie dans le boudoir, 1795

Could somebody please tell me what's the deal?!

Foi no inicio dos agitados anos 70 que o mestre Frank Zappa achou por bem fazer um filme. Como se isso não fosse mau o suficiente, verificou-se à partida que seria uma película com um valor de produção reduzido, pois como se poderá imaginar, o universo paralelo psicadélico de Zappa nunca foi capaz de gerar um estrondoso êxito de vendas (que surpresa, não é?). Assim sendo a rodagem do filme ficou a limitada a 7 dias de filmagens (um grande exagero não haja dúvidas), e para engrandecer ainda mais o suplício o director demitiu-se a meio das filmagens. O resultado final de tantas (ou tão poucas) peripécias foi o estranho e desarticulado "200 Motels".

Tenho as minhas sinceras dúvidas que tal obra alguma vez tenha tido uma distribuição decente, ou até mesmo alguma aceitação por parte do público, mas para meu gáudio a nossa Cinemateca de Lisboa achou por bem inclui-lo no cartaz do presente mês. Foi sem expectativas, e talvez um pouco receoso, que me sentei na humilde sala de cinema. E é exactamente aqui que se coloca a questão chave: "Então diz lá, minha grande besta, de que trata essa porcaria de filme?". Bom, trata de algo que não sei muito bem explicar, mas que me pareceu estar lá, se bem que não tenho a certeza, Digamos que, acontece algo ao longo do filme, umas vezes em tom de paródia, outras vezes em tom de sátira. No final tenho de admitir que sai da sala um pouco zonzo, ainda que satisfeito. Julgo que Zappa foi bem sucedido naquilo que queria criar. E o que era isso? Era Algo!

P.S.: Prometi a mim mesmo rever o filme sob o efeito de drogas...

Am I a Vacuum Cleaner?

"Who is this great burdensome slavering dog-thing that mediocres my every thought? I feel like a vacuum cleaner, a complete sucker, it's fucked up and he is a fucker. But what an enormous and encyclopaedic brain, I call upon the author to explain."

"Rosary clutched in his hand, he died with tubes up his nose and a cabal of angels with finger cymbals chanted his name in code. We shook our fists at the punishing rain and we call upon the author to explain."

- N. Cave & The Bad Seeds (2008)

P.S.: Meus amores, se ainda não ouviram o último álbum do Nick Cave, estão provavelmente a perder um dos melhores álbuns do ano...

Vorwärts Genosse, noch ein Bier!

Era uma noite de sexta-feira, o ambiente, assim como o público, estavam amenos. Em cima do palco Arraial tocava uma banda popular oriunda das terras de Beja. O maravilhoso sotaque era alentejano, tal como a inspiração que dava alma às musicas que se sucediam. Proveniente do cavaquinho, do acordeão e de outros instrumentos menos folclóricos brotava um som há já muito familiar, cortesia da banda "Trigo Limpo". A assistência permanecia contida mas alegre, tal como o amigo a meu lado. A certa altura a extrovertida vocalista anuncia a canção "Sou do Alentejo", dando azo a mais uma música muito pouco original, mas ainda assim divertida para a ocasião. O mencionado amigo deixa-se contagiar. Canta, dança e a certa altura, como que em ponto de ebulição, rodopia o casaco sobre a cabeça e grita em plenos pulmões: "ALENTEJO CARALHO!!!!"

Alguns diriam que era a cerveja, outros que era a alegria, porém eu digo: era o Avante!

domingo, 31 de agosto de 2008

Stories from the Stereo

Vale a pena pôr leitor de CDs a trabalhar para ouvir:

- o Nick Cave a mandar tudo e todos à merda.
- o Zappa a tocar um solo de guitarra improvisado durante 10(!) minutos
- o Dani Filth a berrar como um gato assanhado do inferno
- o Jarre a tocar o teremin como um verdadeiro virtuoso
- o Adolfo Luxúria Canibal a destilar ódio
- o Ian Anderson a roubar o espectáculo com solos de flauta completamente lunáticos
- o Ozzy a dedicar letras de paixão à sua amada cocaína

e por último, as magníficas rimas do Mestre Kilmister dos Motörhead:
"We are the first and we just still might be the last.
We are Motorhead - born to kick your ass!"

Cavaquinho do Demo

A visita de ontem foi à reputada Feira do Mel no castelo de Sesimbra. A noite estava húmida e a névoa corria como um fantasma por detrás da torre do forte. À chegada, mesmo antes de ter tempo de ver o que quer que fosse, chega-me aos ouvidos o som de um açude a marcar o compasso para uma voz feminina muito bem afinada. Cantava-se em português, só que desta vez e para variar, não me soava a estranho. Sem aviso surge uma gaita de foles mirandesa e algo que se assemelhava a uma guitarra portuguesa. Do lado direito do palco tocava um mui competente baterista, que sem dificuldade encostava a um canto muitos outros que eu já tenho visto. Já não consegui arredar pé de junto do palco. A música sucedia-se ora em ritmo frenético, ora em passo hipnotizaste. Os instrumentos, das mais diversas origens populares, debitavam uma sonoridade que muito devia ao tradicional e ao folclore, sem que alguma vez deixasse de ser inovadora. Um concerto fabuloso do principio ao fim, contagiando todos em redor.

"Mas porquê raio é que nunca ouvi falar destes gajos?! Se fizessem música de merda tenho a certeza que já todos os conheciam..." - é verdade, por debaixo do monte de estrume que passa na rádio todos os dias, ainda conseguem existir bandas portuguesas realmente excepcionais, que em muito dignificam a língua-mãe. Pena é que sejam desprezadas em prol da mediocridade das ondas radiofónicas. Mas...é provável que seja melhor assim, para que estragar uma banda tão boa como os Dazkarieh...

Deixei a feira com excelente concerto na memória e com um cd novinho em folha comprado directamente à banda junto da mesa de som. Quanto ao mel, acho que havia para lá algumas bancadas a vender, mas(!) não posso confirmar...

terça-feira, 26 de agosto de 2008

...com o jantar à espera...

Bem...estou neste momento no escritório à espera que o simpático Sr. Nirmal Singh se digne a aparecer para que possa finalmente dar por concluído o dia e ir para casa, mas uma vez o que o amigável Indiano tende em se atrasar, aproveitei p'ra dar por aqui uma vista de olhos. E depois de passar os olhos pelos últimos posts não pude deixar de reparar num "piqueno" promenor: que raio de testamentos eu ando pr'aqui a escrever, como se as pessoas não tivessem nada melhor p'ra fazer do que 'tar a ler estas porras que nunca mais acabam.... Dito isto, juro que daqui para frente vou passar a escrever no melhor estilo telegráfico, poupando o tempo de toda gente...excepto! quando estiver entusiasmado com alguma merda, quando me der aquela inspiração fodida e quando simplesmente não me apetecer. Fica então feita a promessa, com o maior dos compromissos.... e uma vez que já são sete horas, o meu amigo Nirmal vai ter de ficar agarrado....

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

At the Crossroad

Uma lua cheia, polvilhada com pequenas nuvens fantasmagóricas, ilumina de forma intrusiva uma noite húmida e bafienta no delta do Mississippi em Tenessee. As luzes de Memphis encontram-se a quilómetros de distância, e foi aqui, junto a um dos pântanos da região rural, que uma dúzia de Americanos discriminados e segregados construiu do nada a sua ansiada Juke-Joint. Construída com muita vontade e poucos recursos, a humilde construção de tábuas velhas e pregos enferrujados, jaz precária longe de olhares indiscretos. Ela nunca aguentará uma intempérie, ela mal se aguenta às noites de quarta-feira, mas é forte o suficiente para suster em si própria o bradar de um povo e o fervilhar de uma cultura. Aí, bem distante, o espírito pode voar e e cintilar, longe do olhar reprovador da sociedade, longe do dedo acusatório do pastor e acima de tudo longe da opressão das plantações de algodão.

A noite já vai a meio, os músicos dedilham e sopram os seus instrumentos com gotas de suor a escorrer pelas faces. No ar a música hipnotiza, alegra, entristece e liberta. Não há uma única partitura ou pauta musical à vista, estes homens nada sabem da teoria, somente da alma. Os casais misturam-se por obra do acaso e a dança constante eleva a temperatura e os ânimos. Em cantos mais recatados, pares trocam carícias obscenas e beijos sacrílogos, nada que a oração de Domingo não ajude temporariamente a purificar, nem que seja até à semana seguinte. As garrafas de whiskey esvaziam-se como que por magia. "Estás a ver, Deus castiga! Fura-nos as garrafas todas!" - diz um dançarino à sua amante enquanto alcança outra garrafa. Lá fora, alguém ressona junto a uma poça de vótimo, antecipando uma divina dor de cabeça, completamente alheado aos dois indíviduos enlameados que se espancam por alguma razão que nunca será bem entendida.

Contudo, esta noite é diferente. Corre um rumor pelo ar, diz-se que um certo homem poderá aparecer esta noite. Um homem cujo o nome inspira tanta admiração como medo e desconfiança. O seu nome já se espalhou ao longo de todo o Mississippi, e não há um pântano que não tenha reconhecido o seu nome ou o seu rasto. Dizem que ele caminha lado a lado com o Demónio, que é seu amigo e aliado, e que este por sua vez o acolheu como um filho. E tal como todas as coisa que se relacionam com o infernal, este homem era sempre aguardado com profunda ansiedade e temor.

Mas a festa tem de continuar, o amanhã apenas trás infortúnio e mágoa, e aqui, dentro deste barracão reluzente, a música faz esquecer a renda da casa e a apanha nos campos. Os músicos prosseguem com os seus compassos improvisados e sublimes, todavia a carne é fraca mesmo quando a vontade é de ferro. Em breve as mãos ficam dormentes e as costas retesam-se cada vez mais: chega a altura do primeiro intervalo, o tempo ideal para todos recuperarem o fôlego frente a um copo cheio, ao mesmo tempo que se renovam as promessas de amor, tão eternas como uma noite. O burburinho levanta-se e ninguém se apercebeu da sombra que entrou com passos ligeiros e se sentou há uma hora na mesa do fundo. O vulto reconhece o seu momento e levanta-se. Após alguns passos na direcção do improvisado e miserável palco, este transforma-se a pouco e pouco num homem alto e magro. Transporta consigo uma mala de guitarra, o seu fato escuro tem um bom corte e os sapatos estão engraxados como se nunca tivessem atravessado o pantanal lá fora. Os olhares erguem-se quando este se instala no banco de um dos músicos e o tumulto cai drasticamente quando retira da mala a sua viola. A música que ecoa pela sala é diferente de qualquer outra, o seu dedilhar totalmente novo e revolucionário, e a sua voz revibra como um encantamento esquecido algures na memória. O público fica estático de indignação, de adoração, de espanto, de assombro, de pavor, mas nem uma única alma fica indiferente. Acompanhadas por aquela viola possuída, brotam músicas de amor e ódio, de ternura e violência, de esperança e de mágoa. Homens e mulheres escutam a vida transformada em música, uma vida que lhes pertence e que reconhecem em toda a sua plenitude proveniente do músico envolto em trevas.

Porém a música eventualmente termina, tal e qual como começou, sem aviso e sem desculpas. A reacção do público estende-se a toda a escala, desde os aplausos eufóricos em tom de aprovação ao vaiar mais insultuoso. Indiferente, o músico dirige-se discretamente ao dono daquela espelunca, levanta o seu pagamento e transforma-se novamente em vulto para desaparecer por entre os fumos fétidos do pântano. A clientela tem dificuldade em recuperar da intensidade do momento, para alguns a noite está definitivamente arruinada, para outros ela teve um final arrebatador.

Procede-se à lenta retirada, o sol nasce demasiado cedo nesta altura do ano e ninguém quer ser acusado de frequentar um local tão mal afamado. No ambiente de despedida o jovem Levee de 18 anos não deixa escapar a oportunidade de partilhar o seu entusiasmo com o velho Toledo, o veterano baixista:

-"Viste a forma como aquele homem mexia os dedos sobre as cordas! Foi espectacular. Um dia também hei-de de conseguir fazer uma coisa daquelas."
- "Não te entusiasmes assim tanto. Aquela maneira de tocar não era natural, era como se ele tivesse algum tipo de ajuda, como se alguém o ajudasse a puxar as cordas."
- "Do que é que estás pr'aí a falar".
- "Ouve o que te digo, aquele homem transporta consigo algo de sobrenatural. Para onde quer que ele vá ele leva algo nos ombros, algo de maligno."
- "Não me digas que também tu acreditas nesse disparate, esse rumor do músico que vendeu a alma ao Diabo num cruzamento...".
- "Olha que pode ser verdade... tão verdade como aquele homem se chamar Robert Johnson..."

domingo, 24 de agosto de 2008

In Memoriam

O post que se segue não é divertido e muito menos engraçado, mas sim uma tentativa pesarosa de evocar a memória, infelizmente muito esquecida, de duas lendas da história da Fórmula 1. As próximas linhas serão dedicadas aos saudosos Roger Williamson (1948-73) e David Purley (1945-85).

-->Roger Williamson




David Purley <--

Estávamos no mês de Julho de 1973 e o circo da Fórmula encontrava-se no circuito de Zandvoort na Holanda. Nessa época o mencionado desporto não era um espectáculo multi-milionário, cheio de glamour e ostentação como frequententemente sucede na actualidade; da mesma forma que os pilotos que alinhavam na linha de partida não eram de forma alguma jovens mimados e protegidos, mas antes homens de coragem e convicção que arriscavam a vida de forma rotineira, para os quais não era vergonha nenhuma mudar o óleo ao próprio carro. Nesses dias, hoje tão longínquos, os estreante Roger Williamson participava na sua segunda prova de fórmula 1 ao volante de um March 731G, quando a meio da corrida, devido a um problema com o pneu dianteiro esquerdo, alarga demasiado uma curva resultando num espectacular despiste que faz o seu monolugar capotar de encontro a uma barreira de protecção. O acidente danifica gravemente o depósito de combustível do carro, e à medida este desliza com as rodas viradas para cima as faíscas resultantes funcionam como um fósforo, dando a inicio a um incêndio no chassis enquanto Williamson dá por si preso de cabeça para baixo dentro do cockpit.

Quase de seguida o piloto independente David Purley, avista na berma da estrada um March igual ao seu a arder sob uma apavorante nuvem negra, o qual instantaneamente identifica como o sendo do seu amigo. Num dos maiores actos de altruísmo da história da fórmula 1, Purley encosta o seu monolugar e corre de imediato em direcção ao desastre. Por debaixo do metal aquecido e da gasolina flamejante, Purley consegue ainda ouvir as súplicas por socorro do piloto enclausurado. Purley gesticula e clama por auxílio, mas os comissários de pista são escassos e não fazem ideia do que fazer, em puro desespero o próprio Purley tenta por várias vezes virar o carro do amigo com as próprias mãos. Os estácticos comissários são apenas funcionários contratados, sem qualquer tipo de formação ou meios para agir em caso de acidentes graves.

No paddock o director do Grande Prémio, sem se aperceber da severidade do ocorrido, toma uma das piores decisões da sua vida: ao invés de ordenar a bandeira preta e parar de imediato a corrida, opta antes pela bandeira amarela, mantendo os carros em pista. Impossibilitado de seguir pelo caminho mais curto para a área do acidente, o camião de combate ao fogo mais próximo vê-se obrigado a efectuar quase uma volta completa ao circuito para não circular em sentido contrário para com os automóveis ainda em competição.

Na zona do desastre as chamas ganham cada vez mais vigor. Finalmente, um dos comissários consegue rebuscar um extintor que Purley arranca das suas mãos, correndo de novo para junto do carro acidentado. Em apenas alguns segundos, Purley despeja todo o conteúdo do extintor para cima das labaredas, contudo o resultado é frustrantemente nulo. Os comissários permanecem imóveis, impossibilitados de se aproximarem das chamas. Purley acena a alguns pilotos que se aproximam, mas devido à velocidade e à total ausência de comunicações, estes não se apercebem do sucedido, crendo que o carro despistado pertence ao próprio Purley. Por esta altura a nuvem de fumo preto é visível em todo o autódromo e por debaixo de todo esse fumo Purley já não consegue ouvir a voz de Williamson. Numa imagem da mais incisiva frustração, o piloto independente afasta-se com o espírito completamente quebrado. Um infeliz comissário procura consolar Purley, mas este recusa-a com um punho em riste cheio de desdém e despeito.

O camião cisterna chega após quase oito minutos ao local do acidente. Ainda presente, Purley auxilia os bombeiros a exterminar o incêndio. Com o chassis coberto de espuma branca, os homens conseguem finalmente virar o carro. Ainda preso ao cockpit estava Roger Williamson, imóvel e inerte. Os funcionários de pista cobrem o monolugar com um lençol branco. David Purley regressa cabisbaixo ao seu March, e lentamente, conduz de volta às boxes.

O cadáver de Williamson foi encontrado ileso. A sua causa de morte foi intoxicação devido a gases nocivos...



domingo, 17 de agosto de 2008

Anarquista Duval

Pela estrada fora vinha um homem,
encoberto pelas sombras da noite.
Alguém lhe perguntou o nome:
"Sou uma miragem. Dizem,
que semeio o caos e a destruição
como o vento semeia as papoilas.
O meu nome... é Liberdade!"

Vinha pela estrada fora a liberdade,
encoberta pela noite das sombras.
"Sabes quem eu sou?",
perguntou ao candeeiro.
"És uma miragem. E pertences
ao livro dos sublinhados provocadores
que são os poetas.
Almas sonhadoras."

"Anarquista Duval, prendo-te em nome da Lei".
"E eu suprimo-te em nome da liberdade!"

(Adolfo Luxúria Canibal, in O.D. Rainha do Rock & Crawl, 1991)

Um Admirável Mundo Novo

Der Panther
Im Jardin des Plantes, Paris

Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden, dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein grosser Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille -
und hört im Herzen auf zu sein.

(Rainer Maria Rilke, 1902) (Tradução)


Cansados e fustigados pelas cores, pelas luzes, e por milhares de estímulos insípidos e sensaborões, andamos em círculos como animais perdidos. A nossa vontade anestesiada e amainada jaz esquecida nalgum recanto obscuro do intímo. Para lá das grades coloridas e brilhantes que nos cercam já não queremos olhar, temerosos perante um Mundo que aos poucos se vai afastando da memória....

domingo, 10 de agosto de 2008

"And now for something completely different..."

Estava eu muito descansadinho a apreciar o meu café da manhã quando me deparei com um daqueles documentários que estavam tão em moda a alguns anos atrás, mas que agora, quando realmente fazem falta, raramente se vêem. O documentário em questão falava sobre o choque ideológico que ainda hoje existe no Afeganistão, e como não poderia deixar de ser, a certa altura lá tinha de haver uma referência à velha questão das 72 virgens à espera no paraíso. Vamos lá então pensar um bocadinho sobre isto:

Afinal o que é que eles entendem por uma virgem? Pessoalmente a imagem que me vem à cabeça é de uma menina extremamente inexperiente e verdinha, que não tem a mínima ideia de como lidar com um homem. É claro que após algumas sessões muito mal sucedidas, alguma paciência e muita frustração a anterior situação pode ser trabalhosamente corrigida (note-se que isto se aplica tanto a homens como a mulheres...). Agora, como se isto não fosse chatice que chegasse, aqueles gajos dizem-nos que temos de repetir esta merda 72 vezes!! Não me fodam! Se ainda dissessem que no outro lado estão à nossa espera 72 actrizes pornográficas, daquelas que têm um autêntico doutoramento na arte de bem foder, ora aí já coisa era outra. Aliás, até eu que não sou nada religioso estaria interessado, não ao ponto de fazer aqueles atentados suicidas que provocam tão graves dores de cabeça, mas talvez fosse capaz de entregar uns panfletos e tocar a umas campainhas... Das duas uma, ou os senhores fundamentalistas nunca deram uma queca a sério na vida (o que é muito provável e explicaria a sua predisposição para o suicídio), ou então o paraíso é um lugar mesmo muito aborrecido.

Só por curiosidade, para onde será que as actrizes porno vão quando morrem...?

Der Meister

Ora bem sei que ultimamente tenho estado um pouco ausente do meu próprio blog, mas de forma alguma este saiu da minha memória. A bem da verdade é que nos últimos dias a minha cabeça tem andado demasiado ocupada com questões, indagações e divagações filosóficas diversas, todas elas cortesia do Mestre. Esta não é de qualquer forma a primeira oportunidade que se me apresenta para partilhar de algumas das ideias do Mestre, mas desta vez não estava de facto preparado para a genial obra-prima que nos últimos tempos tanto prazer me tem dado. Uma vez que a ele devo tantas soberbas clarificações e linhas de (ir)raciocínio, isto já para não falar do próprio nome deste humilde espaço virtual, achei por bem trazer até vós algumas extrapolações da autoria de um verdadeiro mestre da literatura:

"Há qualquer coisa de belo na alegria, na ausência de dor, nesses dias suportáveis e amainados em que nem a dor nem o prazer ousam gritar, em que tudo sussurra e anda de mansinho em bicos dos pés. Mas comigo, infelizmente, acontece que é precisamente essa alegria que eu menos tolero; após algum tempo ela torna-se-me insuportável, de odiosa e repugnante, forçando-me a fugir, de desespero, para outras temperaturas, porventura trilhando caminhos de luxúria, mas se necessário for também de sofrimento. Quando passo algum tempo sem alegrias nem penas, respirando a sofribilidade morna e insípida dos chamados dias bons, nasce na minha alma de criança um tormento, uma revolta tão inflamada, que atiro a enferrujada lira da gratidão ao beatífico rosto do deus meio-adormecido da satisfação, e preferia uma dor francamente diabólica fervilhando dentro de mim a esta aprazível temperatura ambiente. Irrompe então em mim uma feroz avidez de sensações, de emoções fortes, uma raiva contra esta vida descolorada, banal, estandardizada e esterilizada, e um avassalador desejo de arrasar qualquer coisa, um armazém ou uma catedral, sei lá, ou eu próprio, pôr-me a fazer disparates arrojados, arrancar perucas a uns tantos ídolos venerados, proporcionar a uns tantos rapazinhos estudantes em revolta o ansiado salto até Hamburgo, seduzir uma miúda ou torcer o pescoço a uns tantos representantes da ordem universal burguesa. É que não havia coisa que eu mais detestasse, abominasse e execrasse no mais íntimo do meu ser: essa beatitude, essa saúde, esse bem-estar, esse acalentado optimismo do burguês, essa cultura farta e próspera do medíocre, do normal, do mediano."

-H.H. in "Der Steppenwolf", 1927.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Divino Marquês - ostentar o deboche

"Que toda a Mãe prescreva à sua filha a leitura desta obra."
-Donatien Alphonse de S. , in: "La Philosophie Dans le Boudoir"

Foi no ano de 1795 que o Divino Marquês conseguiu publicar clandestinamente a sua famosa peça de teatro "A Filosofia na Alcova". Uma obra de puro encanto e maravilha onde nos é relatada a história da doce Eugénia. Uma virginal e encantadora menina proveniente de uma honrosa família de bem, tendo sido educada sob os mais estritos príncipios da moral e da virtude. Contudo, por detrás de portas familiares e de paredes conspiradoras, três esfomeados libertinos, cujas vidas foram dedicadas ao mais pervertido deboche e volúpia, preparam-se para revelar à terna menina todos os viciosos prazeres que advêm da mais pura e pérfida perversão...

Num desses arrebatadores episódios o professor Dolmancé, em toda a sua glória, explica carinhosamente à sua adorável aluna:

"(...) ostentai deboche e libertinagem; fazei questão de vos mostrardes pega, deixai que vos vejam o seio; se fordes com essas pessoas a lugares secretos, arregaçai o fato de forma indecente; deixai, com afectação, que vos vejam as partes mais secretas do vosso corpo; exigi-lhes que a vós vos mostrem o mesmo; seduzi-as, censurai-as, fazei-lhes ver o rídiculo dos seus preconceitos; metei-lhes no corpo aquilo a que se chama maldade; dizei na frente delas palavrões como dizem os homens; se forem mais jovens que vós, agarrai nelas à força, diverti-vos com elas e corrompei-as, com exemplos, com conselhos, com tudo o que possais imaginar, ou seja, o que for mais próprio para as perverter. Com os homens sede extremamente livre; ostentai irreligião e despudor na sua presença; longe de vos atemorizardes com as liberdades que eles tomarem, sede vós a oferecer-lhes misteriosamente tudo aquilo que possa diverti-los sem vos comprometerdes; deixai que vos apalpem, fazei-lhes punhetas, fazei com que vo-las façam; ide mesmo ao ponto de lhes dardes o cu; mas como a quimérica honra das mulheres está dependente das suas primícias anteriores, nesse ponto mostrai-vos difícil. Uma vez casada, tomai lacaios em vez de amantes ou pagai a homens da vossa confiança: a partir desse momento tudo ficará encoberto; deixará de haver prejuízos para a vossa reputação e, sem ninguém suspeitar, encontrastes a arte de fazer tudo o que vos agradou."

Indubitavelmente uma valiosa lição...

domingo, 27 de julho de 2008

Avante Camarada! (mas só depois do cafezinho, ok?)

Já por várias vezes que certos amigos e amigas minhas, intrigados com um certo interesse da minha parte por história e iconografia soviéticas, me terão colocado a seguinte questão com variável nível de ansiedade: "Ó minha besta! 'Atão mas afinal tu és comunista ou não?!"

Uma pergunta a qual eu sempre respondo "não". Já li Karl Marx por pura curiosidade, assim como li Lenin por mero interesse. Concordei com algumas coisas, discordei de outras, mas no fundo aquilo que eu mais prezei foi o conhecimento adquirido. Admito que a era soviética sempre despertou em mim um grande interesse, mas nunca vi qualquer necessidade de elevar um hobby para o plano ideológico. Contudo, e nunca esquecendo o anterior, confesso que existem três dias por ano em que tendo a simpatizar com a mencionada ideologia política. E o que poderá porventura provocar tão injustificada simpatia?, indagar-se-á o esclarecido leitor. Bem, o motivo é tudo menos erudito, pois a minha temporária pseudo militância deve-se, nada mais nada menos do que a uma soberba festa de tons vermelhos na zona da Atalaia no Seixal.

Dito isto, gostaria de partilhar convosco um pequena recordação que trouxe dessa festa no ano passado. Tendo em conta o passado da minha família, posso dizer que sei perfeitamente o que é a militância política: o meu mui estimado Pai, para além ter sido um apoiante do MRPP(!) no pós 25 de Abril, foi também durante alguns anos um sindicalista activo. Portanto, repita-se, eu sei o que é a militância política e acreditem que não tem nada a ver com isto:
P.S.: Acho que a mensagem lhes passou um bocado ao lado...O pobre Álvaro Cunhal deve andar às voltas na campa com esta!

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Nur eine kleine Erinnerung


Porquê há comentários tão bons que até merecem um post só por si, deixo-vos esta pequena pérola:

"Prontos ta bem, essa merda até ta fixe, a cena do lobo no frio cheio de neve e o caneco até invoca umas cenas de verdadeiro macho rijo e...macho...e outra vez rijo pronto! Apesar de um blog por si so ser assim uma cena um bocado abixanada, mas, pronto como tu puseste la o lobo ate escapa. Podias era por o lobo a estraçalhar uma carcaça de um coelhinho branco (que as gajas acham tão fofinho) cheio de sangue e tripas. Então terias um blog digno de um verdadeiro lobo das estepes, ou o raio de nome que tu lhe das?!"

Na falta de um coelhinho fofinho, e não querendo de forma alguma ser "abixanado", dedico esta adorável fotografia a um excelente amigo.

(Um abraço, ó chóriço!)

Vozes da Razão Pt.1

Dizia-me assim uma amiga com feições de menina e plena em sinceridade:

"As religiões são como os partidos políticos, não fazem mais nada nada senão prometer. A diferença é que aquilo que as religiões prometem só se pode constatar depois de já cá não estarmos..."

Se me é permitido um breve comentário: Bardamerda!! Assim também eu...

sábado, 19 de julho de 2008

Keine Lust

No outro dia não consegui apreciar o meu café por causa do calor. Fiquei fodido. Não gosto que se metam entre mim o meu café. É uma relação muito especial, percebem...

Could you tell me the way to Sweden..?

No pico do Inverno ouvimos frequentemente as pessoas dizer: "Nunca mais chega o Verão para irmos para a praia...". É verdade, o Verão é realmente uma maravilha! Só é peninha que esses fabulosos e tão aguardados dias de praia se resumam a uns diazinhos de férias...Mas não faz mal, nós não nos importamos minimamente com os transportes públicos com efeito de sauna e a cheirar a sovaquinho, muito menos notamos as agradáveis tardes com uma brisa tão fresca como um tubo de escape, e nem queremos saber da contínua transpiração que não nos deixa dormir de noite. Tudo isso são ninharias, o Verão é que é bom! Ainda para mais, mesmo se estivermos a trabalhar sempre podemos fazer uns belíssimos dias de praia ao fim-de-semana. Existe alguma coisa melhor do que passar um par de horas à torreira do sol numa fila de trânsito? E isto para não falar das facilidades de estacionamento, que de forma alguma nos mói a paciência, e no incrível à vontade com que podemos estar em praias com tão pouca gente. Ai o Verão! É tão bom não é? Faz-me pensar em vistos de residência Suecos...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Somewhere Back In Time

As férias aproximavam-se do fim, mas o espírito não se entristecia, a volta ao trabalho não é nenhum martírio e um último trunfo estava ainda por jogar, um trunfo de ferro que duraria um dia inteiro. A jornada em si iniciou-se com um bom e sincero amigo e um café de qualidade superior, uma combinação que só por si já me deixaria feliz para o resto do dia, não fosse o quadro melhorar ainda mais com a chegada do meu companheiro de outras tantas jornadas. A tarde ia de vento em popa quando nos foi confirmado que seríamos escoltados até ao nosso destino por quatro meninas que nos prometiam passagens mais acessíveis, sem que de nada de indecoroso se tratasse...claro está. Ao longo de um trajecto percorrido ao som de acordeões e guitarras eléctricas, e com uma abundância de piadas de gosto mais duvidoso, o vosso fiel condutor deu por si a passar o módico número de três semáforos de cor verde tinto. Há que ter em conta que perder de vista a nossa agradável escolta seria um tanto ou quanto infeliz, contudo ficou a pairar a dúvida:"Será que tal ímpeto é de facto necessário?" - creio que alguém aprovou condecorosamente o meu empenho....

Terminada a viagem e transaccionadas as passagens, às quais o vosso fiel amigo não conseguiu ter acesso, sem que isso lhe afectasse minimamente a sua boa disposição, procedeu-se à entrada no aguardado evento que aos poucos juntava uma multidão agradavelmente heterógenea. Porém restava ainda uma surpresa: quais as probabilidades de encontrar uma pessoa no meio de uma multidão em menos de trinta segundos e com um único telefonema? Eu diria extremamente reduzidas, no entanto, foi exactamente isso que aconteceu. Desta vez o meu amigo de farta cabeleira, e ainda com direito a abraço, tais eram as saudades.

Dentro do recinto marcaram-se as posições e dispersou-se o grupo, amigo não empata amigo, ainda para mais quando são todos veteranos nestas andanças. As hostilidades começaram com um projecto a solo de uma menina de nome Lauren Harris. Devo confessar de que se tratava de um heavy metal um pouco lá-lá-lá, mas ainda assim uma boa forma de começar. Do espectáculo em si aquilo que reti foi a imagem da dita menina a correr descalça em palco...porquê será que isto me ficou na cabeça..? Após uma curta pausa sobe ao palco uma banda americana de metal americano e como não podia deixar de ser, com todas as tendências irritantes do decrépito metal americano actual. Imaginem um riff de guitarra poderoso, acompanhado de um ritmo frenético, e de repente!, seguido da melodia mais lamechas, e como se não bastasse, cantada da forma mais gay possível. Pelo menos sempre deu para algumas gargalhadas com o meu sincero amigo.

Finalmente à sombra e com uma multidão realmente composta, aguardava-se a chegada de outra banda americana, mas desta vez à moda antiga. Escreva-se na pedra: "seja onde for que os Slayer toquem, haverá desordem e caos", tal como ficou comprovado ao longo de uma hora de ruído infernal. Quanto ao espectáculo, uns dirão que foi bom, outros dirão que foi óptimo, mas eu simplesmente digo: qualquer concerto onde uma multidão grite em uníssono maravilhas como "Chemical Warfare" ou "Hell Awaits" dar-me-á sempre um grande prazer pelos melhores motivos.

Passado o furacão, e recarregadas as baterias com cerveja abundante e comida pouco saudável, chega o momento mais esperado da noite. A multidão aperta-se, os ânimos sobem quando as luzes de presença do palco se apagam. Sente-se a expectativa a crescer, a ansiedade a acumular. Então, de repente, ouvem-se os primeiros acordes de "Aces High", as luzes acendem-se, a banda entra em toda a força, e a electricidade corre pelo ar e propaga-se a todo o público. Ninguém está quieto, ninguém está calado, não é o inicio de nenhum desastre, são apenas os "Iron Maiden" a fazer aquilo que eles fazem melhor. Qualquer réstia de energia que ainda sobrasse no meu corpo foi-me retirada com um soberbo concerto de quase duas horas, e foi meio surdo e afónico que me arrastei até a um muito necessitado hamburguer nojento.

Contudo, assim que dei de caras com ela, apercebi-em que ainda me restavam forças para um sentido abraço à minha/nossa Maria, a jovialidade em pessoa, e uma menina que eu já não via à demasiado tempo. Feitas as despedidas em vários sentidos, restaram apenas aqueles que começaram, um belíssimo grupo não haja dúvidas. Juntos ainda tentámos ver o concerto dos velhotes "Rose Tattoo", mas as forças já não eram as mesmas. Restou-nos um caminho de regresso a casa com as habituais piadas de gosto duvidoso, e desta vez ao som de uma rádio daquelas muito gentis.

Fica a música, fica a amizade, e fica acima de tudo a prova de que sempre que houver ondas sonoras electrificadas e amplificadas no éter, um certo grupo tonhós acabará sempre por se juntar....

terça-feira, 8 de julho de 2008

O Divino Marquês - afrontas anais

Mui caríssimos leitores,
uma vez que o vosso fiel amigo se encontra presentemente a desfrutar de umas curtas e deveras merecidas férias, foi com prazer que pude finalmente revisitar alguns recantos mais poeirentos e esquecidos da minha despretensiosa biblioteca. Destas breves e prazenteiras incursões por páginas passadas, decidi partilhar convosco um excerto de uma das muitas cartas endereçadas pelo divino marquês a senhora sua esposa. Rodeado por paredes encarceradoras, escrevia assim um espiríto indomável e revoltado com as acusações que sobre ele pendiam:

"Mas tudo tolera, esta polícia; só não tolera injúrias feitas a putas. Uma pessoa pode confessar-se culpada de todos os abusos e infâmias possíveis, desde que respeite o cu das putas: é essa a questão essencial e afinal bem simples - as putas pagam-lhes e nós não. Se calhar vai ser preciso, quando daqui sair, pôr-me sob a protecção da polícia: tal como as putas também eu tenho um cu e gostaria muito que mo respeitassem. Darei disso conta ao senhor Fouloiseau, que poderá mesmo beijá-lo, caso queira. Estou certo de que, enternecido por tal propósito, não deixará de me incluir na lista dos protegidos pela polícia." (Vincennes, Junho de 1783)

Não pretendo com tal arremesso menosprezar de qualquer forma o cu das putas, que será certamente um bem bastante cobiçado por inúmeros puristas evangélicos, contudo, não me é possível deixar de considerar injusto o facto de os beatos que com tanto vigor apontavam o dedo ao divino marquês, serem muito provavelmente ávidos praticantes do catolicismo ginecológico, que tão em voga estava na França de então.

domingo, 6 de julho de 2008

Melhor do que o vinho do Porto!!!

É verdade meus amigos... estive lá, vi e comprovei! Estes senhores são os MAIORES CARAGO!!!













Um concerto memorável e cheio de boa disposição por parte de uma banda em grande forma e detentora de uma química espectacular. Não deixa de ser impressionante a forma como estes senhores, que já contam com uma carreira com quase 40 anos, deram uma autêntica "abada" a bandas muito mais novas, no que toca a presença e dinâmica em palco. Assim se vê quem são os verdadeiros Mestres!

P.S. Fica aqui também uma palavra de agradecimento à encantadora menina que se deu ao trabalho de tirar estas e outras grandes fotos do concerto.

domingo, 29 de junho de 2008

Nem uma no cravo

Ainda há poucos dias estava o vosso fiel amigo numa das suas habituais sessões de zapping, constantemente em busca de algo que se assemelha mais a uma miragem do que a um tecido palpável da realidade, quando ao passar por um dos inúmeros e aborrecidos noticiários dou de caras com um fantasma do passado, daqueles que para mal dos nosso pecados insiste em não morrer. Devo dizer que o reconheci de imediato pois uma tal face de aldrabão é difícil de esquecer. A personagem a que me refiro dá pelo pomposo nome de Vale e Azevedo, homem de porte seguro, jeito desembaraçado e portador dos olhos mais mentirosos que alguma vez tive oportunidade de ver. Da entrevista que então decorria, não me lembra grande coisa, tão ocupado que estava com a minha merecida refeição. Contudo ouve certas frases que me ficaram na cabeça, tais como:

-"Eu não fugi para a Inglaterra."
-"Não acho bem que iniciem outro processo contra mim logo assim que saio da prisão."
-"Têm feito de mim um bode expiatório."

Não haja dúvida, o dito senhor é realmente uma vítima. Daqui para frente vou a passar a ter todo o cuidado para não ficar com o dinheiro dos outros e para não infringir nenhuma lei, não vão eles também querer vitimizar-me...

sábado, 28 de junho de 2008

Once upon a time in Texas...

Uma altura houve em que o Texas era um sítio fenomenal. Nesses tempos os "Tres Hombres" eram reis e senhores, e um certo e determinado canal de televisão, que então ainda era inocente e inofensivo, inundava as nossas salas de estar com os seus vídeos de memorável mau gosto estético. Porém não havia a mínima preocupação com isso, estes três mestres da música eram assumidamente imunes à moda e não tinham qualquer intenção de se tornar algo que nunca foram em toda a sua carreira: produtos de marketing ou banda da moda. Pouco lhes importava se os outros os ridicularizavam, pois não havia um único clube ou bar em todo o Texas que não ficasse totalmente lotado com a suas presenças, nem um único bordel que não ficasse ansioso pela próxima visita. Contudo, o sucesso de que desfrutaram ao longo dos anos 80 não foi obra do acaso, pois esta banda começou a dar os primeiros passos no início dos anos 70. Quando o então canal de televisão (hoje em dia, destruidor de mentes juvenis) conhecido como MTV deu a conhecer a todo o mundo a incrível sonoridade destes texanos, já eles eram músicos com uma carreira consolidada e sem nada a provar a ninguém. Essa terá sido provavelmente a razão pela qual eles pouco queriam saber se eram "foleiros" ou não:"Isto é o que nós fazemos, os miúdos que se preocupem em ser famosos", poderiam eles muito bem dizer.

É por isto, e muito mais, que enquanto os outros vêem três texanos a fazer figura de parvo, eu vejo três indivíduos que se estão pouco nas tintas para o que os outros acham; e enquanto os outros vêem foleirice e mau gosto, eu vejo sinceridade e honestidade: eles são aquilo que são e nada mais. E se assim não fosse eles não seriam a melhor coisa que alguma vez saiu do Texas. Quanto ao seu nome...bem, digamos que a inspiração veio de B.B. King.

P.S.: Se os americanos queriam à força um texano na casa branca, pergunto-me se o Billy Gibbons (na foto) não teria sido a melhor escolha.

-"You wanna blow your top?"
-"But I ain't got no top to blow..."
-"Then you gotta blow what you got honey.." (B.Gibbons)

domingo, 22 de junho de 2008

Momentos...




Porque há momentos que vale a pena recordar:


Uma típica cidade remota num recanto esquecido do velho oeste. Chove a cantâros, e a areia que normalmente enche de poeira os pulmões dos habitantes, dá agora lugar a lama e poças bafientas. Parte da população refugia-se no velho e fumarento salão, onde um rolo de cartão gasto faz o abandonado piano tocar sozinho; uma música artificial e ironicamente alegre enche a atmosfera já pesada. Um grupo de mineiros com poucas razões para viver tentam infrutíferamente afogar as suas mágoas com whisky barato e mal destilado. À sua volta, uma mão cheia de prostitutas infectadas com sífilis tentam libertar homens pesarosos e embriagados dos seus último dólares. Indiferentes a tudo isto, um punhado de indíviduos sentados em redor de uma mesa, trocam cartas num jogo de póquer, ensaiando o bluff com uma arma carregada no coldre por baixo da mesa. A chuva intensa a bater no soalho exterior não deixa ouvir o sons das esporas do estranho que se aproxima. Despercebido ele aproxima-se da entrada, apoia os cotovelos sobre as portas de mola do salão e acende a cigarrilha que a chuva lhe negou. Por debaixo do seu chapéu ele procura algo que não demora muito a encontrar. As portas afastam-se e ressoam uma contra a outra enquanto o barulho das suas esporas ecoam até ao centro do salão. Ele é um homem sem nome, as pessoas interrogam-se se ele alguma vez o teve, mas a verdade é que ele nunca precisou de um. As tristes desculpas para seres humanos que se encontram no antro infestado nem sequer dão conta do homem sem nome, tão ocupados que estão a morrer lentamente. O homem sem nome aproxima-se da mesa de jogadores sem nunca erguer o olhar. Os jogadores interrompem o seu vício e observam-no com surpresa, mas um em particular olha-o com um misto de indignação e ultraje. Sem proferir uma palavra o homem sem nome recolhe o baralho, e devolvendo um olhar de desprezo, começa a dar as cartas, para si mesmo e para o singular jogador. Nesta altura o jogador de póquer assume uma máscara de raiva e desafio. Os seus companheiros de jogo abandonam a mesa sem sequer tentar disfarçar, os ratos são mestres na arte da sobrevivência. As cartas estão dadas, os dois homens entreolham-se durante segundos, até que o jogador de póquer, vendo o homem especado à sua frente como um futuro cadáver, decide alinhar na brincadeira apenas para fazer uma última vontade ao incauto e ingénuo pedaço de merda que insiste em morrer. O jogador troca três cartas, o homem sem nome duas, o primeiro lança as suas cartas sobre a mesa: um par miserável. O homem sem nome segue o seu exemplo e revela uma fraquíssima tripla. Farto, cansado e com vontade de puxar o gatilho, o jogador de póquer finalmente pergunta:
-O que estávamos a apostar?
O homem sem nome muda a cigarrilha para o outro canto da boca:
-A tua vida...

A palavras para quê?!
("For a Few Dollars More", de Sergio Leone, com Clint Eastwood)

sexta-feira, 20 de junho de 2008

The Germans are coming!!

Num mundo cada vez mais globalizado, onde os povos e nações se tendem a aproximar cada vez mais uns dos outros, velhas barreiras como os estereótipos vão sendo gradualmente derrubadas à medida que conhecemos os "outros" cada vez melhor, e nos apercebemos que é ridículo catalogar os "outros" com base em ideias pré-concebidas e redutoras.

Para melhor exemplificar aquilo a que me acabei de referir, gostaria de citar um comentário extremamente cosmopolita e esclarecido proferido pelo comentador da TVI para o jogo Portugal-Alemanha, durante uma altura do jogo em que a equipa nórdica se encontrava totalmente à defesa:

"Como se pode ver a equipa alemã claramente entrincheirada..."

Lindo!

terça-feira, 17 de junho de 2008

Dumb All Over

Ora aqui vai um pequeno e castiço pseudo poema, que na minha mui humilde opinião muito revela acerca do actual estado do nosso planeta...

"Well, my toillet went crazy yesterday afternoon,
the plummer, he said, 'never flush a tampoon'.
It's great information, cost me half a week's pay,
and the toillet blew up latter on the next day..."
-F. Zappa

P.S. : Tenho mesmo de deixar as drogas...!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Mas porque raio é que eu gosto disto??!!

Muita gente não está familiarizada com o mundo do Black Metal, o que é perfeitamente natural pois o ser humano tem um instinto inato de auto-preservação (o que incluí a boa saúde dos tímpanos...), contudo tenho de admitir a existência de uma certa banda do mencionado género que insiste em não sair do meu leitor de MP3: refiro-me acanhadamente a uma banda norueguesa (mas que surpresa, hã?!!) que dá pelo poético nome de "Carpathian Forest".

Perguntar-se-á então o leitor, porque me deveria eu acanhar face a um mero gosto pessoal? Ora bem , por onde é que eu hei-de começar...?

Em primeiro lugar os Carpathian Forest são provavelmente uma das bandas menos originais que eu já ouvi, funciona tudo à moda antiga e não se inova um bocadinho que seja (feitiozinho de merda, não?). Depois há que mencionar a perícia com que tocam os seus instrumentos, que é... menos má (isto foi um elogio). Por último, uma das características que me chamou logo a atenção é a demonstração de puro domínio linguístico da língua inglesa por parte do Sr. Nattfrost , vocalista e líder da banda, que gosta de se apresentar com o cognome "Hell Comander" (genial não é?). Para demonstrar isso mesmo vejamos um excerto da letra da colorida música "the angel and the sodomizer" do virtuoso e progressivo albúm "We're going to hell for this":

"Gather the hordes of Hell. / Gangbang Virgin Mary. / 666 Seconds in Hell. / Destination Death."

Para além da fantástica complexidade frásica, é de notar a espectacular coesão semântica e encadeamento entre frases, que, diga-se, faz todo o sentido. Mas...sinceramente... "gangbang virgin mary"???, como é que o homem se lembra destas merdas?? E isto não fica por aqui! Digam-me, como é que poderemos alguma dia racionalizar uma música com o nome "Bloody Fucking Necro Hell"?? Eu não estou a gozar, esta música existe e faz parte do mesmo álbum...

Mas a verdade é as porcarias que eles arrancam dos instrumentos têm muita piada. É como um filme do Steven Seagel: é tão, mas tão mau, que chega a ser bom. No fundo, confesso é que a música destes senhores me deixa deveras bem disposto. E isso é tudo o que me interessa. Quanto ao facto de eu andar constantemente a gozar com eles, só tenho um comentário a fazer: entre a minha colecção de originais, encontra-se um álbum de Carpathian Forest, e tendo em conta que paguei por ele, não vou ser eu o último a rir...

-"I sodomize!", by Nattfrost

What is Sexy...?

Já por várias vezes me perguntei a mim próprio o que será afinal essa história do sexy. Toda a puta do santo dia somos massacrados, a partir de tudo o que é meio de comunicação, com sugestões directas e indirectas que nos querem forçar a aceitar algo que alguém, algures e de alguma forma achou que deveria ser o "sexy". Longe de mim querer desiludir quem quer que seja, muito menos os tão respeitáveis e sinceros departamentos de marketing que apenas querem o nosso melhor, evitando sempre qualquer tipo de manipulação (abençoados sejam...).

MAS...
...tenho de admitir uma coisa. Para mim uma mulher que parece feita de plástico não é sexy, uma mulher que mete pázadas de porcaria na cara também não é sexy, e acima de tudo, uma mulher que nada mais tem para mostrar para além do aspecto físico não é definitivamente sexy.

Desta forma, o curioso e atento leitor poderá indagar-se: "Oh meu animal! Tendo em conta que acabaste de excluir 90% do gajedo que nos aparece na televisão e nas revistas, será que tu, que tens a mania, nos poderias dizer afinal de contas o que é essa porcaria do "sexy"?"

Bom...respostas categóricas não há... Porém, posso dizer que para mim, sexy é uma mulher com garra e determinação suficientes para dominar uma máquina que ultrapassa os 300km/h, e suportar horas de força G intensa sobre o corpo; sexy é uma mulher com talento para vencer num meio que lhe é adverso... Senhoras e senhores, a primeira mulher a liderar as 500 milhas de Indianápolis e a vencer uma corrida da Indy Series, a grande Danica Patrick:



terça-feira, 10 de junho de 2008

Do meu próprio veneno...

Ainda no outro dia ia eu, como de costume constrangedoramente atrasado, a caminho do seminário da amável professora Clotilde, preocupado com o facto de não ter o meu trabalho pronto para entregar e a ponderar sobre qual a melhor maneira de informar a professora, quando dou com a minha turma já fora da sala, e a dita professora a arrumar os seus pertences. Apanhado de surpresa dirijo-me a uma colega de modos discretos e olhar encantador:
-Então mas afinal o que se passa? - pergunto eu deveras curioso.
A minha estimada colega olha para mim com o ar mais sóbrio do mundo e diz em tom pesaroso:
-A Professora disse que quem não entregou o trabalho hoje está chumbado.
Com uma desconfortável sensação de quase pânico acrescento:
-'Tás a gozar, certo?
Ela deixa sair um sorriso do mais puro gozo e responde:
-Estou!

Agora já sei o que os outros sentem... Parabéns à minha cara colega, um desempenho capaz de enganar um mestre na arte.

Oh no! Here comes that screeching sound...again!


Não foi há muito tempo que uma menina de belos caracóis ruivos e feições de donzela me terá dito algo do género: "Outra vez o Zappa! Já não posso com essa merda!". E com muita justiça dizia ela tal coisa, não fosse a dita menina companhia habitual nos meus passeios de carro.

Mas a verdade é que poucos músicos me cativaram tanto como o Frank Zappa. A total ausência de barreiras ou limites musicais, a criatividade desenfreada, a sátira imperdoável e um sentido de humor fenomenal, deixaram-me atordoado. Muitos dirão que é apenas música para malucos, mas de qualquer das formas eu também nunca fui muito equilibrado...

Portanto, caso o incauto leitor alguma vez viaje à pendura no meu humilde bólide, tenha em atenção o conteúdo do leitor de Cd's. Lembre-se, é sempre preferível mudar o CD do que estrangular o condutor num gesto de raiva cega.
Yours truly...

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Mais um blog!! Mas porquê?!!!

...só pra chatear....afinal de contas não podem ser sempre os outros! É claro que se coloca sempre aquela questão: "Então mui estimado senhor, poderia porventura partilhar connosco a finalidade de tal empreendimento?", ora bem, antes de mais já estou mais que farto de finalidades. Não há aqui finalidades nem utilidades, este espaço será pura e simplesmente uma forma de extravasar aquilo que aborreceria de morte qualquer outro ser humano. Ou seja, ao invés de chatear os outros com merdas que não interessam para nada, dou aqui azo a tudo o que de estúpido e inconsequente me passa pela cabeça. E assim ficamos todos mui contentes...

c'oa breca, o meu intento literário revela-se deveras merdoso....!