segunda-feira, 27 de abril de 2009

Paraíso (uma terra às moscas desde 1968)

Mui sábio e honrado S. Pedro aguarda junto aos portões divinos. No seu cinto a chave dourada que dá acesso aos portões da salvação. Em toda a sua grandeza ele questiona novamente:

- Pecas-te meu filho?
- Não, meu senhor, nunca.
- Amas-te o teu semelhante?
- Constantemente, meu senhor.
- Mantiveste a tua virtude intacta.
- Em todos os momentos.
- E ouviste música...?
- Bem...sim, claro!
- Rock'n'roll?
- Sim!
- Rolling Stones?
- Claro!
- A música "Sympathy for the Devil"?
- Muito boa!
- Então, temos pena...

domingo, 26 de abril de 2009

Um feriado sem o menino Jesus?!! Ao menos comprassem alguma coisa...!

... e o 25 de Abril é o meu feriado favorito porquê:

- É um dia em que as pessoas saem à rua.
- É um dia em que se recorda o dia em que as pessoas saíram à rua.
- Nos relembramos do que acontece quando as pessoas saem à rua.
- Podemos festejar sem ter de oferecer nada a ninguém.
- Não é capitalizável pelos malditos centros comerciais.
- Ouvimos música do Zeca Afonso e gostamos a sério.
- É a primeira oportunidade do ano para cantar a "Grândola...".

... e porquê há sempre festa na minha cidade à beira rio...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Into the Shadows

E só porque me apetece, fica aqui o meu actual Top 5 relativamente ao que de melhor, mais competente e mais original se tem feito no estranho mundo do Black Metal. (todos os títulos valem só por si, não havendo qualquer gradação entre eles)

"Cruelty and the Beast"(1998) - Cradle of Filth

Provavelmente o melhor álbum conceptual alguma vez editado dentro do género. O fio condutor são as desventuras da temida Condessa romena Erzebet Bathory, as quais são narradas fazendo uso de um inglês de nível literário. Seja qual for a opinião acerca do vocalista da banda, o Sr. Dani Filth, a verdade é que as suas letras neste trabalho são de uma qualidade e originalidade assombrosas, não há dúvidas de as lições de literatura inglesa foram mais que bem estudadas. Quanto à música, esta é cortesia de uma das melhores formações dos COF, todos os músicos dão um excelente contributo e a banda funciona como um todo na perfeição, criando espaço para todos demonstrarem o seu talento, o que nem sempre é fácil. O resultado de tal entendimento é a quintessência do Black Metal Sinfónico, contas feitas este é o álbum que inúmeras bandas tentaram alcançar ao longo dos anos noventa, contudo tal proeza foi destinada a estes senhores. Nesta obra de arte não existem quaisquer notas supérfluas, nem momentos menores, sendo um álbum que decorre do inicio ao fim sem qualquer ponto fraco. De destacar são as fenomenais texturas musicais, assim como a perfeita fusão entre violência e melodia.


"Puritanical Euphoric Misanthropia" (2001) - Dimmu Borgir

Uma banda que durante anos prometeu muito chega finalmente à ribalta com um álbum que não só elevou o estatuto da banda como trouxe toda uma nova dimensão ao género. Talvez o primeiro álbum realmente bem sucedido de Black Metal Progressivo, o que veio trazer um conjunto de novas possibilidades. Aqui revelam-se alguns dos mais memoráveis contra-tempos e proezas técnicas que o meio já viu, um desafio constante sem relegar a coesão da música para segundo plano. Ao longo de uma hora assistimos a um dedicado trabalho de composição que se demonstra através de complexas estruturas rítmicas e de intrincados e alucinados compassos, uma proeza ao alcance somente de músicos dedicados e bem competentes. Outra novidade foi a inclusão de uma orquestra sinfónica, a qual sem dúvida confere uma nova grandiosidade ao som e ambiente geral do álbum . No rescaldo trata-se de uma produção imensa, tendo certamente consumido muitos dos recursos da banda, mas uma vez que a qualidade do trabalho era realmente digna de tal cuidado, o produto final é um marco para um género que se julgava restrito ao underground.


"Sons of Northern Darkness" (2002) - Immortal

Sendo uma das bandas primordiais do movimento norueguês, os Immortal conseguem com este álbum realizar o incrível feito de conquistar o respeito e admiração tanto do público em geral, como dos puristas do underground. Para tal bastou somente o grande respeito que sempre tiveram relativamente às suas raízes e um compromisso inabalável para com a entidade e originalidade que sempre foram associados à banda. Desde os anos noventa que os Immortal se dedicavam à criação de um som que lhes fosse próprio, e o auge da sua criação releva-se precisamente com este álbum . Se o seu som havia sido sempre original, aqui a banda poderia ter criado um género praticamente novo só por si. Ao longo de oito músicas verdadeiramente épicas, os immortal destacam-se de forma evidente de qualquer outra banda, não apenas no círculo restrito de Black Metal mas em todo o Heavy Metal em geral. A guitarra de Abbath e bateria de Horgh (nomes estranhos, eu sei..) são totalmente distintas, produzindo um som único que facilmente associamos a eles mesmos. As composições da banda comprovam um extraordinário talento musical, contudo a produção é bem terra-a-terra, não havendo lugar para pretensiosismos. A prova viva de que o sucesso pode ser obtido sem qualquer compromisso artístico.


"In Times Before the Light" (2002) - The Kovenant

Na verdade o álbum "In times..." foi originalmente editado em 1997, tratando-se de um trabalho de fraca produção por parte de uma banda ainda em clara evolução. Contudo o Sr. Nagash (líder da formação) sempre considerou o produto final tremendamente injusto devido às constantes e revoltantes dificuldades sentidas pela banda durante a gravação. Assim sendo, em 2002 a banda decidiu dar uma nova hipótese ao seu álbum primogénito. Com esse intuito conseguiram ainda resgatar as gravações das guitarras, bateria e voz, contudo, tudo o resto já havia sido perdido. Nestas condições o Sr. Nagash propôs-se a regravar todos os sintetizadores e partes ambientais, os quais seriam adicionados às velhas músicas depois de uma nova mistura em estúdio. O resultado é no mínimo doentio. Às velhas e cavernosas músicas de um obscuro Black Metal Sinfónico, adicionou-se uma ambiência industrial e progressiva, obtendo-se uma mescla musical enlouquecedora, não sendo passível de qualquer designação ou classificação musical. Aqui a base é evidentemente o Black Metal, mas este é transportado para uma nova e inominável dimensão que não respeita qualquer conceito ou fronteira musical. Um trabalho perturbador...e em tudo genial.


"Now, Diabolical" (2006) - Satyricon

Uma banda que aparenta estar impossibilitada de ter um grupo fiel de fãs, pois para mal dos seus pecados esta recusa-se a editar dois álbuns iguais. A discografia dos Satyricon é uma constante evolução, e o som que produzem actualmente pouco ou nada deve ao som que criaram no inicio de carreira. Tal facto confere à banda um estatuto de renegados que lhes permite abstraírem-se de qualquer entrave à sua criação artística, o que fica bem patente em jóias como "Now, Diabolical". Neste trabalho a banda deixa bem claro que não deve nada a nínguem, e parte em busca de um estilo de composição que é apenas seu. Grande parte do álbum desenrola-se a meio tempo, todavia a ambiência criada é bem mais negra e diabólica do que aquela que muitos puristas do Black Metal conseguiram alguma vez alcançar. As músicas evidenciam algum minimalismo, contudo, os fenomenais pormenores detectados por uma audição atenta revelam um árduo esforço musical. Cada faixa apresenta uma coesão perfeita, não existindo uma única nota forçada ou fora do lugar, e todo o álbum é bem coeso nas sensações que transmite. Exemplar, como sempre, é trabalho de bateria, cortesia de um baterista sobre-humano e tremendamente original. Para finalizar, é imperativo mencionar a produção a cargo da própria banda: simplesmente perfeita.

domingo, 12 de abril de 2009

O Gato que não gostava Platão

As dúvidas existenciais assombravam-me. Andava às voltas com as mesmas antigas questões, sempre sem qualquer resposta no horizonte. Se houvesse ao menos alguém de maior erudição e entendimento que pudesse auxiliar-me em tão fatídicos assuntos. Foi então que me ocorreu: o meu gato lia Thomas Mann ao pequeno-almoço, já para não falar das tardes que passava na soleira da porta a apanhar banhos de sol e a ler ensaios filosóficos. O seu conhecimento académico era realmente de louvar, não me esquecerei nunca das refutações que fez a Kant, nem dos reparos com que assolou a obra de Nietzsche. De facto era tão inteligente que por vezes até me sentia culpado por ter as vacinas do bichano em atraso, mas depois passava. Resoluto, fui de encontro ao meu gato que se encontrava nesse momento a devorar o "Homem sem qualidades" de Robert Musil e sem hesitação perguntei:
- Diz-me lá, frondoso felino de superior intelecto: não acharás por vezes o tecido da nossa presente existência demasiado ténue? Como um véu que convida à grandiosidade mas que tudo olvida devido à sua opacidade. Uma partida cósmica que nos faz sonhar e ao mesmo tempo nos impede de qualquer avanço significativo. Não estaremos nós, seres ilimitados, por demais limitados?
O bichano pousou o volumoso livro e suspirou profundamente antes de me olhar directamente com olhos de enfadonho:
- E se fosses p'ó caralhinho, não?!

sábado, 11 de abril de 2009

Mundos Despertos

Num compasso de morte, eis que ele ascende do eclipsado vale de Ulthar. O inconcebível ente proveniente de uma além dimensão material onde a física e tempo a que estamos sujeitos não se aplica e onde a entropia modela a existência, atravessa lentamente o vórtice em resposta aos meus macabros apelos. O continuum espaço-temporal foi dilacerado, violado, permitindo a olhos humanos observar algo a eles vedado pelo próprio Universo. A Lua adquire um tom amarelado remanescente de podridão à medida que baforadas de um execrável odor se espalham a toda a volta no abandonado cais. É o medo ancestral que nos vem acariciar. Perante mim a forma que em tempos passados tanto assombrara os meus piores pesadelos manifesta-se empiricamente, contudo o entendimento humano é por demais incapaz de experienciar devidamente uma entidade não limitada às vulgares três dimensões espaciais - resta-me a loucura ou a demência. Algo como um vulto transparente capaz de se erguer vários metros acima de mim, numa forma alongada, esticada e intermitente da qual irrompem cores perdidas, acima de tudo o negro, enquanto uma sombra vermelha é projectada de uma forma incompatível com a nossas leis da física. Mesmo abaixo da gangrenosa Lua avisto dois rasgos que parecem de alguma forma estar associados à nossa concepção de órgãos visuais, pois é para lá que o meu olhar se sente compelido. A silhueta esguia como um véu, da qual não posso atestar uma tangibilidade, alarga-se junto aos rasgos no cimo, dando a falsa sensação de uma cabeça da qual emergem flutuantes tiras que se movimentam como tentáculos. Da secção intermédia do gigantesco vulto partem indistintamente dois traços tão compridos como a forma em si, os quais poderiam facilmente ser considerados patas insectívoras, caso não se parecessem tanto com garras abismais. O vulto alienígena curva-se bem para além de mim, sinto a existência por um fio.

- Poderei agora encontrar paz no sono? Ver-me-ei agora livre daquele tenebroso Mundo onírico?

- Não...o Pesadelo pertence-te...

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ventos Animais

Um vento animal varre o nosso país. Porém há já muito que tal vento deixou de ser novidade, pois largos foram os anos em que este tem vindo a crescer, com a mesma velocidade da putrefacção sobre um cadáver inominável, transformando-se gradualmente num furacão cheio maus augúrios. Mais uma vez o prenúncio de anarquia espalhou-se: o cão da morte continua a bafejar e estará de visita a Lisboa para destilar ódio na dúbia data de um de Abril.

"Foi assim... de baixo p'ra cima...Pah!"

As expectativas eram realmente muito elevadas, mas a melhor banda de rock português recusou-se veementemente a desiludir quem quer que fosse! Duas horas da melhor música que se faz neste canto do Mundo. Ritmos ora frenéticos, ora dementes, serviam de acompanhamento às geniais letras escritas inteiramente em português, cortesia do insano Adolfo Luxúria Canibal, inimigo declarado de tudo o que é vulgar e normal (palavra odiada!). Foi magnificamente enlouquecedor testemunhar a violência com que a banda insistia em debitar os velhos clássicos da sua rica discografia, se ao menos o S. Jorge não tivesse lugares sentados, juro que teria começado de boa vontade um motim...

"E o que dirias ao amor da tua vida..?"

"Diria: Quero morder-te as mãos!!!"

Um novo patamar de atrasadice mental

E quando todos nós pensávamos que este espacinho virtual não podia possivelmente ser mais estúpido, eis que surge nova ideia totalmente deprimente da minha parte. Desta feita, no melhor e mais sério interesse da justiça, votei preencher uma importantíssima lacuna no nosso amado código civil. Com tal intuito, foi com a maior sobriedade e formalismo que indaguei alguns dos mais respeitados intelectuais e peritos na matéria com a seguinte questão:

"Na tua opinião quem é o maior criminoso: a pessoa que abandona a criança na estação dos correios ou a pessoa que abandona a criança no cartório notarial?"

De seguida, as ascéticas respostas:

Joana S.: Acho que são igualmente criminosos, já que iam abandonar ao menos que fizessem numa maternidade. Mas acho que o maior criminoso é o que abandona nos correios. É que no cartório eles sempre têm alguma autoridade, acho eu...

Xana: Rui, acho que tens um grave problema, precisas de ajuda...

Mike: Andas muito confuso! Se calhar um psicólogo ia ajudar. Que tal...?

A. Carol: Onde queres chegar exactamente...?

Joana F.: É difícil...Nos correios porque a criança corre o risco de ser mandada para outro lugar...

R. Pessoa: Ambos os dois, simultaneamente ao mesmo tempo!

NR Gato: No cartório, porque não lhe dão atenção e fica necessitada de afecto. Nos correios sempre pode brincar nas cabines telefónicas ou com a máquina dos selos. Sem dúvida a primeira é a mais austera.

Mano: Será que fiz alguma coisa e não me lembro?!

Quero desde já agradecer às espectaculares pessoas acima mencionadas, que em muito dignificam este blog com tão eruditas respostas, e também por perderem tempo com as minhas ideias dignas de um verdadeiro atrasado mental - assim vale a pena! (Mas confesso que a imagem de criancinhas abandonadas a brincar com uma máquina de selos me vai atormentar durante algum tempo...)

Cheers Mates!!!