domingo, 12 de abril de 2009

O Gato que não gostava Platão

As dúvidas existenciais assombravam-me. Andava às voltas com as mesmas antigas questões, sempre sem qualquer resposta no horizonte. Se houvesse ao menos alguém de maior erudição e entendimento que pudesse auxiliar-me em tão fatídicos assuntos. Foi então que me ocorreu: o meu gato lia Thomas Mann ao pequeno-almoço, já para não falar das tardes que passava na soleira da porta a apanhar banhos de sol e a ler ensaios filosóficos. O seu conhecimento académico era realmente de louvar, não me esquecerei nunca das refutações que fez a Kant, nem dos reparos com que assolou a obra de Nietzsche. De facto era tão inteligente que por vezes até me sentia culpado por ter as vacinas do bichano em atraso, mas depois passava. Resoluto, fui de encontro ao meu gato que se encontrava nesse momento a devorar o "Homem sem qualidades" de Robert Musil e sem hesitação perguntei:
- Diz-me lá, frondoso felino de superior intelecto: não acharás por vezes o tecido da nossa presente existência demasiado ténue? Como um véu que convida à grandiosidade mas que tudo olvida devido à sua opacidade. Uma partida cósmica que nos faz sonhar e ao mesmo tempo nos impede de qualquer avanço significativo. Não estaremos nós, seres ilimitados, por demais limitados?
O bichano pousou o volumoso livro e suspirou profundamente antes de me olhar directamente com olhos de enfadonho:
- E se fosses p'ó caralhinho, não?!

1 comentário:

xana disse...

E tu, foste???