sábado, 11 de abril de 2009

Mundos Despertos

Num compasso de morte, eis que ele ascende do eclipsado vale de Ulthar. O inconcebível ente proveniente de uma além dimensão material onde a física e tempo a que estamos sujeitos não se aplica e onde a entropia modela a existência, atravessa lentamente o vórtice em resposta aos meus macabros apelos. O continuum espaço-temporal foi dilacerado, violado, permitindo a olhos humanos observar algo a eles vedado pelo próprio Universo. A Lua adquire um tom amarelado remanescente de podridão à medida que baforadas de um execrável odor se espalham a toda a volta no abandonado cais. É o medo ancestral que nos vem acariciar. Perante mim a forma que em tempos passados tanto assombrara os meus piores pesadelos manifesta-se empiricamente, contudo o entendimento humano é por demais incapaz de experienciar devidamente uma entidade não limitada às vulgares três dimensões espaciais - resta-me a loucura ou a demência. Algo como um vulto transparente capaz de se erguer vários metros acima de mim, numa forma alongada, esticada e intermitente da qual irrompem cores perdidas, acima de tudo o negro, enquanto uma sombra vermelha é projectada de uma forma incompatível com a nossas leis da física. Mesmo abaixo da gangrenosa Lua avisto dois rasgos que parecem de alguma forma estar associados à nossa concepção de órgãos visuais, pois é para lá que o meu olhar se sente compelido. A silhueta esguia como um véu, da qual não posso atestar uma tangibilidade, alarga-se junto aos rasgos no cimo, dando a falsa sensação de uma cabeça da qual emergem flutuantes tiras que se movimentam como tentáculos. Da secção intermédia do gigantesco vulto partem indistintamente dois traços tão compridos como a forma em si, os quais poderiam facilmente ser considerados patas insectívoras, caso não se parecessem tanto com garras abismais. O vulto alienígena curva-se bem para além de mim, sinto a existência por um fio.

- Poderei agora encontrar paz no sono? Ver-me-ei agora livre daquele tenebroso Mundo onírico?

- Não...o Pesadelo pertence-te...

1 comentário:

xana disse...

Eis que da Cova(da Piedade!) renasce um novo H.P. Lovecraft...HAHAHAHA!!! lol :p