As férias aproximavam-se do fim, mas o espírito não se entristecia, a volta ao trabalho não é nenhum martírio e um último trunfo estava ainda por jogar, um trunfo de ferro que duraria um dia inteiro. A jornada em si iniciou-se com um bom e sincero amigo e um café de qualidade superior, uma combinação que só por si já me deixaria feliz para o resto do dia, não fosse o quadro melhorar ainda mais com a chegada do meu companheiro de outras tantas jornadas. A tarde ia de vento em popa quando nos foi confirmado que seríamos escoltados até ao nosso destino por quatro meninas que nos prometiam passagens mais acessíveis, sem que de nada de indecoroso se tratasse...claro está. Ao longo de um trajecto percorrido ao som de acordeões e guitarras eléctricas, e com uma abundância de piadas de gosto mais duvidoso, o vosso fiel condutor deu por si a passar o módico número de três semáforos de cor verde tinto. Há que ter em conta que perder de vista a nossa agradável escolta seria um tanto ou quanto infeliz, contudo ficou a pairar a dúvida:"Será que tal ímpeto é de facto necessário?" - creio que alguém aprovou condecorosamente o meu empenho....
Terminada a viagem e transaccionadas as passagens, às quais o vosso fiel amigo não conseguiu ter acesso, sem que isso lhe afectasse minimamente a sua boa disposição, procedeu-se à entrada no aguardado evento que aos poucos juntava uma multidão agradavelmente heterógenea. Porém restava ainda uma surpresa: quais as probabilidades de encontrar uma pessoa no meio de uma multidão em menos de trinta segundos e com um único telefonema? Eu diria extremamente reduzidas, no entanto, foi exactamente isso que aconteceu. Desta vez o meu amigo de farta cabeleira, e ainda com direito a abraço, tais eram as saudades.
Dentro do recinto marcaram-se as posições e dispersou-se o grupo, amigo não empata amigo, ainda para mais quando são todos veteranos nestas andanças. As hostilidades começaram com um projecto a solo de uma menina de nome Lauren Harris. Devo confessar de que se tratava de um heavy metal um pouco lá-lá-lá, mas ainda assim uma boa forma de começar. Do espectáculo em si aquilo que reti foi a imagem da dita menina a correr descalça em palco...porquê será que isto me ficou na cabeça..? Após uma curta pausa sobe ao palco uma banda americana de metal americano e como não podia deixar de ser, com todas as tendências irritantes do decrépito metal americano actual. Imaginem um riff de guitarra poderoso, acompanhado de um ritmo frenético, e de repente!, seguido da melodia mais lamechas, e como se não bastasse, cantada da forma mais gay possível. Pelo menos sempre deu para algumas gargalhadas com o meu sincero amigo.
Finalmente à sombra e com uma multidão realmente composta, aguardava-se a chegada de outra banda americana, mas desta vez à moda antiga. Escreva-se na pedra: "seja onde for que os Slayer toquem, haverá desordem e caos", tal como ficou comprovado ao longo de uma hora de ruído infernal. Quanto ao espectáculo, uns dirão que foi bom, outros dirão que foi óptimo, mas eu simplesmente digo: qualquer concerto onde uma multidão grite em uníssono maravilhas como "Chemical Warfare" ou "Hell Awaits" dar-me-á sempre um grande prazer pelos melhores motivos.
Passado o furacão, e recarregadas as baterias com cerveja abundante e comida pouco saudável, chega o momento mais esperado da noite. A multidão aperta-se, os ânimos sobem quando as luzes de presença do palco se apagam. Sente-se a expectativa a crescer, a ansiedade a acumular. Então, de repente, ouvem-se os primeiros acordes de "Aces High", as luzes acendem-se, a banda entra em toda a força, e a electricidade corre pelo ar e propaga-se a todo o público. Ninguém está quieto, ninguém está calado, não é o inicio de nenhum desastre, são apenas os "Iron Maiden" a fazer aquilo que eles fazem melhor. Qualquer réstia de energia que ainda sobrasse no meu corpo foi-me retirada com um soberbo concerto de quase duas horas, e foi meio surdo e afónico que me arrastei até a um muito necessitado hamburguer nojento.
Contudo, assim que dei de caras com ela, apercebi-em que ainda me restavam forças para um sentido abraço à minha/nossa Maria, a jovialidade em pessoa, e uma menina que eu já não via à demasiado tempo. Feitas as despedidas em vários sentidos, restaram apenas aqueles que começaram, um belíssimo grupo não haja dúvidas. Juntos ainda tentámos ver o concerto dos velhotes "Rose Tattoo", mas as forças já não eram as mesmas. Restou-nos um caminho de regresso a casa com as habituais piadas de gosto duvidoso, e desta vez ao som de uma rádio daquelas muito gentis.
Fica a música, fica a amizade, e fica acima de tudo a prova de que sempre que houver ondas sonoras electrificadas e amplificadas no éter, um certo grupo tonhós acabará sempre por se juntar....
Sem comentários:
Enviar um comentário