uma vez que o vosso fiel amigo se encontra presentemente a desfrutar de umas curtas e deveras merecidas férias, foi com prazer que pude finalmente revisitar alguns recantos mais poeirentos e esquecidos da minha despretensiosa biblioteca. Destas breves e prazenteiras incursões por páginas passadas, decidi partilhar convosco um excerto de uma das muitas cartas endereçadas pelo divino marquês a senhora sua esposa. Rodeado por paredes encarceradoras, escrevia assim um espiríto indomável e revoltado com as acusações que sobre ele pendiam:
"Mas tudo tolera, esta polícia; só não tolera injúrias feitas a putas. Uma pessoa pode confessar-se culpada de todos os abusos e infâmias possíveis, desde que respeite o cu das putas: é essa a questão essencial e afinal bem simples - as putas pagam-lhes e nós não. Se calhar vai ser preciso, quando daqui sair, pôr-me sob a protecção da polícia: tal como as putas também eu tenho um cu e gostaria muito que mo respeitassem. Darei disso conta ao senhor Fouloiseau, que poderá mesmo beijá-lo, caso queira. Estou certo de que, enternecido por tal propósito, não deixará de me incluir na lista dos protegidos pela polícia." (Vincennes, Junho de 1783)
Não pretendo com tal arremesso menosprezar de qualquer forma o cu das putas, que será certamente um bem bastante cobiçado por inúmeros puristas evangélicos, contudo, não me é possível deixar de considerar injusto o facto de os beatos que com tanto vigor apontavam o dedo ao divino marquês, serem muito provavelmente ávidos praticantes do catolicismo ginecológico, que tão em voga estava na França de então.
Sem comentários:
Enviar um comentário